Limbo (videogame) |
Após um período de afastamento relativo, voltar “à terra” necessita um ajustamento aos pólos da psique nacional, as metáforas religiosas e futebolísticas. Juntando as analogias médicas, para os mais velhotes, com uma dose de sarcasmo e outra de seriedade. Fora disso, as notícias que enchem os media têm pouco interesse, ou por serem tão previsíveis como a implementação dos acordos com a “troika”, ou por apenas servirem a fatuidade de quem precisa de estar visível para existir, ou por a “silly season” já se ter tornado permanente.
O limbo dos adultos
Começando pela metáfora religiosa, Portugal encontra-se nestes tempos no chamado “limbo dos adultos”, uma invenção teológica tão irracional como o "céu" e o "inferno" entre os quais supostamente se situa. Como convém a uma nação maioritariamente supersticiosa, a qual não teve mérito suficiente para ganhar o céu, mas que não terá culpas assim tão graves que justifiquem uma descida directa ao inferno.
Os sacerdotes de Mamon
Aqui estamos, financeiramente falidos, tentando heroicamente cumprir as penitências imposta pelos sacerdotes de Mamon. Sabemos que é absurdo esperar que as sangrias dos impostos fortaleçam o crescimento económico, mas confiamos que ao menos as dietas das administrações do estado curem a obesidade e que as purgas dos serviços sociais limpem o sistema de parasitas. Um penitente em risco de vida, que só o oxigénio dos empréstimos atabalhoados permite esperar pela salvação dos transplantes europeus que já tardam demais. Porém, se morrer morre curado, exorcizado e convertido numa alma penada que se juntará ao coro das tragédias gregas.
O Governo não é uma selecção nacional
Passando à metáfora futebolística, é preciso aceitar o facto de que o Governo não é uma selecção nacional. Contrariamente aos regulamentos da FIFA, os melhores jogadores nacionais não têm que jogar na selecção do governo. Podem continuar no conforto dos seus clubes, uns porque não foram chamados e outros porque não quiseram, por boas ou más razões pessoais. Mas mesmo não podendo ser nunca uma selecção absoluta dos melhores, não deixa de ser a melhor equipa nacional que foi possível reunir. Aqui e agora. Mesmo sem pôr bandeiras nas janelas, temos que “torcer” para que ganhe.
A liga europeia
Primeiro, porque jogamos numa liga europeia em cujos árbitros não podemos confiar, porque são também capitães de equipas nacionais. A União Europeia está a ser governada por um directório de amanuenses, numa altura em que se precisava de estadistas com o voluntarismo e a visão para agarrar o oportunidade desta geração. A seguir aos “pais” que foram construindo a Europa após a ultima guerra e depois com a tendência da sua extensão até aos limites do continente, é criminoso não avançar agora para a evolução natural duma verdadeira união fiscal, económica e finalmente política.
O campeonato mundial
Além deste, há também um campeonato mundial, com algumas regras de convivência estabelecidas progressivamente por tratados e organizações internacionais. Mas essas regras são pouco e mal cumpridas. São uma selva com alguns trilhos demarcados, fora dos quais há predadores e presas jogando com armas desiguais, onde alguns ganham e muitos perdem.
Os atavismos
Embora não sirva de nada, era bom ter o conforto psicológico de ainda acreditar nas invocações crédulas para que os deuses nos ajudem a ultrapassar as dificuldades: “Kyrie, eleison”, como nas memórias da infância.
Assim acabam estas cogitações... no sítio onde começaram.
Assim acabam estas cogitações... no sítio onde começaram.
JSR