Thursday, June 27, 2013

166 - A Náusea

Dia de greve geral
Está bom tempo e devia ter ido toda a gente para a praia (“grève” significa areia, cascalho, na origem da expressão estão os trabalhadores de Paris que se juntavam no cascalho duma das margens do Sena, esperando que os viessem contratar para descarregar os barcos).
Ir à praia até nem foi má ideia, as praias estavam cheias. Mas há sempre quem tente estragar a festa, o que é uma pena, pois os tempos estão difíceis e é preciso aproveitar todos os pequenos prazeres. Logo quando há um belo dia para ir à praia, não há transportes públicos.
Como de costume, são os funcionários das empresas públicas que vão de folga, sobretudo os dos transportes que paralisam o país. Pouco lhes importa a liberdade dos trabalhadores de poderem fazer greve ou não, dependendo dos seus interesses e da sua consciência. Ficam todos reféns. Isto nem chega a ser a ditadura do proletariado, é a chantagem dos pendurados nas mamas do estado.
Ninguém foi a lado nenhum
Aqueles que não puderam ir à praia, também não apareceram nas manifestações, não há pequenas vinganças. As televisões bem tentaram disfarçar, com a falta de ética do costume, mas por pouco não havia mais dirigentes de palanquim a falar do sucesso excepcional da greve, do que participantes nas concentrações. As declarações falsas são uma praga para a democracia, porque fazem falta sindicatos credíveis para negociar com realismo e enquadrar os perturbadores.
As declarações económicas dos sindicalistas também não resistem à avaliação duma dona de casa: primeiro gasta-se em tudo o que for necessário e depois é que se fazem as contas (ouvido na TV). Como é que se define o necessário? Quando o bolso da dona de casa estiver vazio e mais ninguém lhe vender fiado, terá que ir falar com estes sindicalistas, não acham?
Sem ironias, o país sofre de graves crises, combinando austeridade, recessão, desemprego e confusão política. É natural que quem se sinta injustiçado se manifeste, proteste contra a situação, queira trabalho e melhores condições de vida. Mas já não é natural que o faça sem pensar onde estão os seus verdadeiros interesses e a sobrevivência do país. Não é natural que, apesar dos progressos da educação e da liberdade de informação, ainda haja tanta gente a acreditar nos lobos disfarçados com peles de cordeiro, que acabam por os devorar, como sempre, porque a credulidade é atávica.
Os caminhantes sem destino
Por favor, que alguém explique a razão desta greve, acerca da qual o cura da CGTP disse já saber que o governo a ia ignorar e o funcionário do BES disse que a UGT só queria quebrar o jejum das marchas com os amigos. Não estará a fazer muita falta a antiga Feira Popular?
Os sindicatos são dominados pelos comunistas e seus companheiros de marcha. O que lhes interessa é defender os direitos adquiridos por uns poucos empregados, privilegiados e sindicalizados, deixando todos os trabalhadores, sobretudo os do privado, ficarem reféns de interesses que não são os seus.
A ambição de escapar ao trabalho e obter um emprego para viver pendurado no Estado ou duma empresa, vem de longe. Os “partidos dos trabalhadores” querem que Estado e empresas forneçam cada vez mais empregos, melhores salários, melhores serviços sociais. Não interessa que o Estado ou as empresas estejam falidos, esse não é o problema deles.  
O paraíso dos trabalhadores
Vale a pena analisar um pouco os objectivos desses pretendidos defensores dos trabalhadores e verdadeiros funcionários de empregos vitalícios e direitos adquiridos. Quando o paraíso dos trabalhadores comunistas foi alcançado, o que aconteceu?
A grande União Soviética implodiu, apesar das suas enormes riquezas energéticas, minerais e humanas, o que lhe permitiu algumas proezas pontuais na ciência, no armamento e na indústria. Desmoronou-se, porque a ideologia do partido único e a opressão da polícia secreta, não podem substituir a competência política, económica, técnica e administrativa, nas diversas actividades do Estado. A queda foi seguida pela apropriação de todos os recursos e de todas as empresas rentáveis, por parte de oligarcas vindos do KGB, que formaram uma associação mafiosa que pôs a Rússia e outras repúblicas a saque. Na China os “princelings”, descendentes dos companheiros de Mao, arregimentaram a população ao seu serviço e para enriquecimento próprio, num sistema de capitalismo selvagem. Na Coreia do Norte, a paranóia deu num regime militar, brutal, hereditário e ridículo. É isso que os comunistas querem para Portugal?
Vamos lá recapitular:
O país faliu, ninguém lhe queria emprestar nem mais um tostão furado. Precisou de pedir ajuda financeira externa, elegeu um novo governo para pôr a casa em ordem, uns quantos peregrinos aceitaram lugares no governo para lutar contra os interesses instalados, os direitos adquiridos, o despesismo e a corrupção generalizada. E o que aconteceu? Aqui d’el rei que as coisas estão a mudar. Protestos, manifestações, greves. Nas finanças há um contabilista a fazer contas e a dizer que não há dinheiro para continuar a viver como se não houvesse amanhã. É preciso fazer economias, quase todos concordam, mas só naquilo que não causa transtorno a cada um dos protestantes. Os outros que paguem. Quais outros? Os ricos, os que têm salários ou reformas “milionárias” (em escudos...), que já pagam impostos extorsionários, porque os verdadeiros ricos há muito que se puseram a salvo. Há sempre uns bodes expiatórios apanhados com a boca na botija a dar maus exemplos que devem ser reprimidos, mas sem importância estatística. Se não há ricos e malandros suficientes no país, então devem pagar os países ricos da Europa. Porquê? Não estão já pagar o suficiente? E quem os pode obrigar? Há sempre quem venha dizer “muito claramente” que não sabe, não quer saber e detesta quem sabe. Querem apenas trocar de lugar com os que estão no poleiro, para depois fazerem o mesmo ou pior.
Emprego ou trabalho?
As palavras que se usam são sempre reveladoras do que se pensa e daquilo em que se acredita. Vejam-se os países onde se usa a palavra “emprego” (ou equivalente em cada idioma), em vez da palavra “trabalho”. São os que estão em dificuldades. Coincidências ou não?
Em Portugal não se procura trabalho, procura-se emprego, de preferência no Estado, e mesmo no privado com progressão por antiguidade em vez de avaliação de qualidade e garantias contra o despedimento por incompetência. Falta de emprego, desemprego jovem, estatísticas do desemprego. Por pouco a International Labour Organization não foi traduzida como Organização Mundial (das cunhas e) do Emprego...
A Náusea
Nos anos 60 do século passado, quando Jean-Paul Sartre ganhou (e recusou) o prémio Nobel, não havia em Portugal gato nem cão com pretensões intelectuais que não carregasse “La Nausée” debaixo do braço. Éramos todos existencialistas e, mesmo que achássemos que toda aquela procura palavrosa da consciência era uma seca, considerávamos que isso se devia à nossa ignorância. Com o tempo e a experiência perde-se a insegurança e podemos confessar  que Sartre e os existencialistas foram importantes na evolução do pensamento do seu tempo, mas lá por isso não deixaram de ser uns filósofos chatos e complicados.
A política portuguesa está assim. Poucos querem efectivamente resolver os verdadeiros problemas do país, mas procuram apenas ganhar popularidade dizendo ou escrevendo coisas que pensam que a maioria quer ouvir.
De vez em quando é preciso questionar as ideias feitas, porque a irracionalidade das multidões é bem conhecida na história e bem estudada pela psiquiatria. Os xamãs, os sacerdotes, os caudilhos, os ditadores, os grandes comunicadores, conseguem demasiadas vezes transformar grupos de pessoas individualmente sensatas em massas acéfalas, capazes de todos os crimes e de todos os comportamentos auto-destrutivos. 
Cuidado com os desejos que repetem sem parar os recalcitrantes. Imaginem que se realizam.

JSR 

Sunday, June 2, 2013

165 - A Romagem dos Marretas

Juntaram-se recentemente uns quantos marretas na Aula Magna da UCL, a pedido do pirómano Soares, do pateta-alegre, perdão, do poeta Alegre e dos penitentes catastrofistas do costume. Juntaram-se em romagem os marretas-mor do reino. Não valeria a pena perder tempo com o assunto ou sequer mencioná-lo, que não merece, mas foi surpreendente o efeito de eco que lhe foi dado pelos órgãos de comunicação ("comunicação", por oposição a "informação").
Depois da “brigada do reumático” no fim da ditadura de direita, de má memória, temos agora a “brigada da senilidade” dos saudosistas das ditaduras de esquerda, que perderam a memória. Num caso como noutro, uma demonstração de desespero por falta de protagonismo, tão ridícula como inútil.
Na aula magna o vazio de substância foi ensurdecedor, até o bloco de esquerda sozinho faz melhor... Esta gente endoideceu. Clamar por revoltas, atentados e revoluções em tempo de crise, é próprio de quem deixou de aprender com a experiência. De quem congelou numa idade do gelo da memória. De quem não se apercebe que já pertence ao arquivo morto da história.
Estavam lá também alguns dos “despenteados por dentro do crânio”, uma fauna em crescimento demográfico, talvez devido à progressiva diminuição da inteligência média das populações (pelo menos é o que pretende um estudo (?) da Universidade de Amesterdão, muito noticiado recentemente, como tendem a ser todas as idiotices que os jornalistas chamam “de interesse humano”...).
Não, estas romagens não acontecem porque a estupidez humana está a aumentar, mas sim porque há gente irresponsável que não consegue parar de debitar todas as fantasias e enormidades que lhes passam pela cabeça, geralmente sem conhecimento, sem estudo e sem reflexão. Gente que não existe sem as luzes da ribalta, gente que se transformou em hologramas que desaparecem quando a luz se apaga. Para se manterem sob os holofotes são capazes de tudo, todas as contorções, todas as contradições, todas as explorações.
Neste momento, o que “está a dar” é a exploração das dificuldades reais do país e dos portugueses, a hipocrisia de ganhar popularidade à custa das tragédias dos outros. Querem lá saber das medidas que o país realmente precisa para endireitar as finanças e recuperar a economia. Que o actual governo vá conseguindo alguns progressos, embora insuficientes, só sublinha a incompetência dos governos anteriores, uma coisa que os marretas não podem suportar. E repetem até enojar que este governo legitimamente eleito deixou de ter legitimidade (então quem tem?); que não acerta “nos números” (quais números? os da lotaria? sabem que a economia não é uma ciência exacta? sabem que nunca nenhum governo acertou “nos números”, pois estes são por natureza evolutivos?). 
Francamente, este frenesim lembra o ditado latino: Asinus asinum fricat (em tradução livre: os burros coçam-se uns aos outros)...

JSR 

Saturday, June 1, 2013

164 - E-Government

Aconselho vivamente a ler esta entrevista e o relatório a que se refere. Destina-se a todos aqueles que se interessam pela realidade das coisas e não apenas pela sua aparência e pelo ruído mediático, quase sempre enganadores.
Gostaria, tal como muitas pessoas esclarecidas, de trazer este Centro para Portugal. Estamos a fazer tudo por isso, para, como se dizia em tempos antigos: o bem da nação.
“Tomasz Janowski, head of the Center for Electronic Governance at UNU-IIST, was interviewed as part of the panel of experts and policy makers by the Economist Intelligence Unit (EIU) about the United Nations (UN) e-Government Survey.”
Para ler a entrevista, carregar em:
Para ler o Relatório, carregar em:
Chamo a atenção em particular para os capítulos seguintes do relatório:
“...
- Benefits of e-government           
- Getting the most out of public funds           
- Boosting computer literacy           
- Encouraging citizen participation           
- Investing in infrastructure and delivery           
- Trends in e-government           
- Growing demand for transparency and accountability           
- Targeting corruption
- ...”
Boa leitura.
JSR