Wednesday, July 17, 2013

169 - The Road to Damascus

These days few people “see the light” or any light at all, on the road to Damascus, like Saul of Tarsus witnessed when converting to the Christian faith. This is hardly surprising, but what is dangerous is that so few people see the light of reason. Apocalypse is occurring in the very places where humanity established the first building blocs of civilization, it is spreading fast throughout the entire region and there is not much that can be done to help.
The light that blinds
Many years have passed by, since the Age of Enlightenment pressed the use of reason to reform society, casting aside superstitious beliefs, fighting intolerance and curbing the excessive power of churches and states. It is absolutely appalling to observe, as late as this century, the revival of obscurantist and religious sects, zealots and extremists, bigots warring among themselves, bent on spreading terrorism all over the world. They cannot see the light of reason, their minds having been blinded by the light of conflicting faiths.
Mediterranean rot
Around the rim of the Mediterranean Sea, things are rotting fast. What used to be the center of the world, the middle of the Earth, has become nothing more than the crowded backwaters of old civilizations harboring even older resentments. Disgruntled peoples were left behind to live side by side, by a history of neighbors trying to annihilate neighbors.
The countries on the European side are on a descending curve of faltering democracies, discredited political parties, economic decline, towering financial debts, broken welfare states, raising unemployment and declining birth rates.
Those on the African side (Morocco, Algeria, Tunisia, Egypt) are making brave attempts, although not very successful, to establish less authoritarian regimes and independent institutions, modernize their societies and reduce crippling administrative corruption, develop the economy to keep pace with galloping reproduction rates by creating enough jobs for the new generations.
The Middle East is an expanding bonfire of pre-civil wars (Egypt, maybe Lebanon), civil wars (Syria), post foreign interventions (Iraq), decomposing theocracies (Iran) and sheikhdoms buying relative internal peace by bribing their citizens and financing terrorist groups outside their borders (Saudi Arabia and the other oil States of the Gulf). Then there is the case of Turkey’s surreptitious Islamization of the institutions, a regression from Mustafa Kemal’s reforms (yes, Turkey has one important toe in Europe, but most of its territory and the capital are in Asia).
Reason and fantasy
The dreamland that fills the minds of a large part of mankind is full of portents, prophets and supernatural beliefs, which provide an escape to the dreariness of daily life. Most of those beliefs originated in the Middle East and superstitions were a part of those building blocs that were the seeds of civilizations.
It is not easy to grow out of custom, some societies got stuck in traditional ways of life and progress reaches very slowly the old mindsets. Sadly, this is the present condition of some nations that were in the past beacons of brilliant civilizations (Pharaohs’ Egypt, Persia, the Ottoman Empire).
Progress and retrogress
Evolving towards democratic institutions is a long process, strewn with difficulties and pitfalls. Reforms are hard to implement and even harder to maintain.
The ancient Greeks had a first go at it, balancing between oligarchy and democracy. Still, their finest time came with the rule by Pericles, a populist oligarch, the golden age marking also the beginning of the end for Athens. They originality later vanished into becoming another Roman conquest, a source of teachers and philosophers for the aristocracy.
The Romans created a successful Republic and later turned it into an Empire. Everybody learns today that the assassination of Julius Caesar was actually intended as a last ditch defense of the Republic. The Roman Empire later fell under the invasion of the barbarians and the long night of the Middle Ages extended over the known world.
Although a couple of merchant city-states called themselves republics during this period, it was necessary to wait until the eighteen century for the American Colonies to revolt and become a democracy and a Republic. Then, the French Revolution also eventually organized itself as a Republic, before degenerating into an Empire and engulfing Europe in war.
The paths towards democracy, in Europe and elsewhere, have a very checkered history. In many countries democracy is still a work in progress, while in others it is already a decaying regime.
 Another hand of cards
All this to say that it is only natural for the southern and eastern Mediterranean countries (many of them being recent and artificial colonial contraptions), to go through the convulsions associated with the birth of democratic institutions. This is an important empowerment for their citizens, the majority of them still poorly schooled and with centuries of irrational beliefs embedded in their minds. It will take perseverance to overcome the odds stacked against success and accept the many inevitable failures.
 They will also need to see off foreign interventions and competing interests, as well as to exhaust the inertia of ancestral sectarian hatred. It will take a long time, they should have all the time necessary, but the world moves ever faster these days and everybody else has already lost patience with the laggards. Not that there is any alternative to make do with the world as it is.
JSR

Friday, July 12, 2013

168 - Telefonaram de Casa...

De Lisboa...
Nos últimos dias em Lisboa, os meios de comunicação, os políticos e comentadores, as associações e sindicatos, todos (ou quase) pareciam de acordo com o facto que o Presidente ia aceitar a proposta de remodelação do governo apresentada pelo Primeiro-Ministro. Em consequência, cada qual continuava a debitar a sua cassete favorita, de acordo com os seus interesses e sem se preocupar com a situação desesperada do país. Estranha surdez ou voluntária ignorância.
Quando o Presidente fala, parece que as velhas estatísticas da OCDE indicando que os portugueses estão entre os europeus que têm mais dificuldade em compreender a informação que lhes é transmitida, continuam válidas.
No entanto, se há personalidades coerentes e previsíveis na política portuguesa, Cavaco Silva tem sido uma delas durante toda a sua carreira. Só diz o que quer e quando quer, mas faz o que diz. Não esquece os factos, não perdoa as ofensas e serve fria a vingança, a receita básica para uma longa vida política onde quer que seja. O que tem dito e feito ultimamente aponta sempre na mesma direcção: estabilidade política que garanta o cumprimento do programa assinado com os credores e a sustentabilidade do Estado após a partida da troika.
Esperar que o Presidente aceitasse uma qualquer remodelação da coligação governamental depois do ataque de hormonas de Portas (decidindo em solitário uma demissão irrevogável), ou acedesse aos pedidos igualmente egoístas das esquerdas para eleições antecipadas, é duma falta de atenção mais que surpreendente, realmente estúpida. Era perfeitamente espectável que mandasse os partidos que passam por responsáveis, os que assinaram o Memorando de Entendimento com a troika, resolverem as birras entre si e encontrarem uma solução no interesse do país e sem se preocuparem apenas com jogadas tácticas individuais.
Esperemos que seja possível, embora as probabilidades sejam pequenas. Temos que concordar, os partidos não prestam, os políticos bons são poucos, mal acompanhados e mal amados. Ou mantêm uma distância higiénica ou vão-se embora assim que podem.
...para Nova York
Visto deste lado do Atlântico, o que se passa em Portugal é o equivalente a receber uma chamada do gerente do condomínio a dizer que, mais uma vez,  um desarvorado deixou uma torneira aberta e o prédio ficou inundado.
Os bombeiros (os mercados) fecharam outra vez a água (o crédito), mas os canalizadores (os partidos) continuam a discutir se o problema foi a torneira aberta demasiado tempo (os gastos superiores ao rendimento), resultando na inundação (endividamento excessivo) ou o entupimento do escoamento (a economia em recessão não absorve os deficits). Sempre o mesmo disco rachado.
Entretanto, é preciso que os homens dos seguros (a troika) voltem a avaliar os novos estragos (queda da Bolsa, subida dos juros da dívida), para continuar a limpar e secar o prédio (fazer as reformas) e aprovem o apoio financeiro necessário (mais tempo, juros menores, mais dinheiro) para fazer reparações e melhorias (na retoma do crescimento económico). Ou então que denunciem a apólice (cortem as amarras e deixem o país ir à deriva, já chegava uma Grécia, para uma Europa sem coluna vertebral). Pequenas coisas, grandes aborrecimentos.
Só porque se trata duma chamada de casa, durante uns minutos dura a tristeza de constatar que, como todos os regimes em decadência, esta terceira república portuguesa tem sobrevivido com alguns bons profissionais aguentando uma maioria de políticos muito rafeiros.
Como se não houvesse crises mais graves a acontecer no mundo.
JSR
   

Wednesday, July 3, 2013

167 - A “Choldra”

A última crónica neste blog, chamada “A Náusea”, terminava assim: “Cuidado com os desejos que repetem sem parar os recalcitrantes. Imaginem que se realizam”.
O Tempo das Carpideiras
Do que aconteceria ou acontecerá se esses desejos se realizarem, foi dada uma primeira demonstração com a demissão do ministro das Finanças. Foi também possível ter imediatamente uma ideia do desastre que esse facto apenas, significa para a (falta de) credibilidade dum país que tenta reconquistar penosamente a sua alforria financeira. Os juros da dívida começaram a subir e a bolsa de Lisboa a cair.
Ontem, a tomada de posse da nova ministra das Finanças, a quem foram confiadas responsabilidades de rigor normalmente associadas à racionalidade masculina, contrasta com a demissão de Paulo Portas, num amuo mais próprio da emotividade feminina, ou, como disse Congreve: Hell hath no fury like a woman scorned”.
A demissão de Portas é duma irresponsabilidade absoluta, sem nenhum atenuante ou desculpa. Com a possibilidade da queda da coligação, os juros da dívida dispararam de tal forma que se perdeu o resultado dos sacrifícios feitos durante dois anos. A Bolsa de Lisboa caiu em crash, com os investidores a livrarem-se de todos os activos portugueses a qualquer preço. Num só golpe, aos olhos que contam no estrangeiro, Portugal juntou-se ao clube da Grécia e de Chipre, eurolixo.
Nas circunstâncias presentes, não é fácil para nenhum primeiro ministro encontrar alguém competente (e suicida) para as Finanças. Por um lado, é preciso manter a credibilidade junto de credores e representantes da União, do Banco Central e de outras instituições internacionais. Por outro, tentar ao mesmo tempo satisfazer as sensibilidades (ia escrever “hormonas”...) de prima dona do parceiro de coligação, torna a tarefa quase impossível.
A Falta de Rigor
Pior mesmo, só eleições antecipadas e a possível chegada ao governo dos socialistas. Vale a pena lembrar o que aconteceu muito recentemente em França com a eleição de Hollande. Uma pequena esperança em França (porque já conheciam o personagem) e um embandeirar em arco do PS em Portugal. Foi tudo por água abaixo em poucos meses, não conseguiu nada, ninguém lhe liga nenhuma, os franceses mostram nas sondagens (e eleições locais) que até lhe preferem a extrema direita. E ainda há “anjinhos” que acreditam que a chegada do PS ao governo seria diferente no nosso país.
Portugal gasta mais do que produz, está falido e endividado, portanto tem que reduzir despesas nos serviços do estado e pagar as dívidas, para poder viver dentro dos seus meios. Qualquer governo tem e terá que resolver estes problemas. “Muito claramente”, sr. Seguro, “qual é a pressa” em saltar neste caldeirão, sem ideias, sem programa, sem competência?
Dos muitos problemas de que sofre a sociedade portuguesa, a falta de rigor é certamente o pior. Nunca é fácil governar este país, porque quando tem dinheiro esbanja em vez de investir, e quando não tem, o que acontece a maior parte do tempo, ninguém se entende.   
A “Choldra”
Não é verdade que o rei D. Carlos tenha usado esta expressão para se referir ao povo ou à classe política do seu reino. Foi mais uma calúnia, entre tantas outras, inventada por gente que, esses sim, efectivamente mereciam o epíteto.
Pesquisa-se para trás na história, tanto quanto se queira, lê-se o que escreveram os cronistas, historiadores e escritores de cada época e encontram-se descrições, sérias ou sarcásticas, da mesma “tropa fandanga” de açambarcadores da coisa pública, sugadores de benesses de reis e governos pródigos, abusadores de privilégios de classe sobre a generalidade da população. A regra constante tem sido sempre tentar viver à custa do Estado e dos poucos que produzem riqueza, por apropriação de bens ou obtenção de rendas ou empregos.
Em relação à totalidade da população, houve na história poucos chefes com visão e estratégia, poucos exploradores, poucos conquistadores, poucos empreendedores e poucos colonizadores. Mas encontram-se muitos parasitas, muitos esbanjadores, a tentar ultrapassar complexos de inferioridade atávicos com ostentações de novos ricos ignorantes cujo ridículo ainda hoje não foi esquecido na Europa.
Nos dias que correm, a “choldra” aplica-se como uma luva a muitos políticos, jornalistas, comentadores e sindicalistas, que mentem como respiram, com a aparente convicção de quem passou a acreditar nas próprias mentiras.
Salve-se quem puder
O presente governo começou com uma única vantagem: a de não ser o despesista governo anterior. Ganhou uns pontos ao conseguir convencer portugueses competentes e desinteressados a deixarem o conforto dos seus lugares no estrangeiro para ajudarem a salvar um país falido e (mal) habituado a viver a crédito.
Tentaram durante dois anos. Travaram a queda financeira, ganharam alguma credibilidade no estrangeiro e obtiverem juros menores e mais tempo para pagar as dívidas. Mas não conseguiram vencer os interesses instalados, dos donos da economia do país aos manipuladores das massas ignorantes.
O país vai sobreviver, mas o seu lugar na Europa e na zona euro, mudaram definitivamente. A democracia coxa da terceira república e a sociedade de falsa abundância, acabaram. Portugal voltou ao terceiro mundo. Como dizia António Vitorino  a propósito do governo de Sócrates: habituem-se.
JSR