Friday, December 31, 2010

15 - A Rapariga do Oeste

Puccini - La Fanciulla del West
O Met (Metropolitan Opera de New York) apresentou na antevéspera do Ano Novo a ópera de Puccini “La Fanciulla del West”, com Deborah Voigt, Marcello Giordani e Lucio Gallo, maestro Nicola Luisotti. Barbara Voigt, no papel de Minnie, é substituída nos dias 3 e 8 de Janeiro pela soprano portuguesa Elisabete Matos.
Uma ópera acerca do Far West, dos cowboys que largaram as manadas de vacas para a corrida ao ouro da Califórnia, da rapariga chamada Minnie que dirige um saloon e que cita a bíblia para convencer o xerife e os mineiros a não enforcarem o bandido que ama, é uma história diferente por se referir ao imaginário americano em vez de usar os librettos clássicos europeus. Mas não só. Nesta história não morre ninguém, tem um happy ending moralista, obrigação continuada depois nos filmes de Hollywood, incluindo os de um certo Disney e o seu casal de ratos, Mickey e Minnie.
Esta ópera teve a sua première espectacular no Met em 1910, supervisionada pelo próprio Puccini, com a orquestra conduzida por Toscanini, e com Enrico Caruso, Emmy Destinn e Pasquale Amato nos papéis principais. Depois disso, tem sido representada raramente e com grandes intervalos entre as produções. Mas sempre com grande sucesso critico e entusiasmo dos espectadores.
Vem a propósito mencionar o patrocínio das artes na América. Olhar para as paredes dos átrios ou ler o catálogo do Met, são compêndios de como a economia se torna instrumento de promoção social, quanto custa em doações ser chairman (ou chairwoman) do Board of Directors (US$30 milhões), co-chair e as diferentes categorias de directores (de 20 a 1 milhão), escritos com letras cada vez mais pequenas, de tamanho correspondente à contribuição, abaixo disso já não se consegue ler. Depois há todos os comités e as produções, tratados de forma semelhante e com doações adicionais. Todas as contribuições são bem vindas, evidentemente, angariadas com engenho e arte, deduzidas dos impostos, mas abaixo de um milhão desaparecem do radar do reconhecimento público...
Como se pode perceber através do angelismo natural num libretto de ópera, a América não é para os tímidos. Ainda hoje a maioria dos cidadãos que votam querem manter o espírito de fronteira, o direito a lutar por um lugar ao Sol, onde tudo é possível para quem conseguir sobreviver, mas quem falha, morre. O mais discretamente possível, please, para não incomodar o trabalho e o enjoyment dos outros. 
Sem outros comentários, sem comparações e sem julgamentos de valor. 
JSR

Tuesday, December 28, 2010

14 - As Tormentas e as Esperanças do Nosso Tempo

Georgetown on the Potomac
A percepção de todas as coisas muda com a perspectiva do observador. Visto de Washington, de Paris, de Lisboa ou de qualquer outro lugar, o mundo não só parece diferente, como é efectivamente diferente.
Nas lojas de souvenirs de Georgetown vendem um mapa do mundo como ele é supostamente visto pela classe politica americana dentro da “beltway”, a auto-estrada circular da capital. É suposto ser uma ironia, uma piada, mas esconde verdades incómodas. Nesse mapa, onde os Estados Unidos ocupam a quase totalidade do espaço, o Canada, o México e todo o resto das Américas aparecem como pequenos apêndices incómodos. Para Nascente, há uma fatia de mar com uns relevos no horizonte onde se destacam a Nordeste umas ilhotas chamadas Inglaterra, Alemanha, França e uma massa indiscriminada de Europa. Ainda mais longe uma espécie de nuvem negra, a Rússia que ainda não deixou de ser o império do mal. Mais para Sudeste, um relativamente grande estado de Israel, rodeado de poços de petróleo povoados por beduínos irritantes. No Sul, o pequeno buraco da África. Do lado Poente, uma fatia maior de mar com as ilhotas de Hawaii, do Japão e da China com uma linha de horizonte cheia de olhos em bico a espreitar. Um mapa que se pretende cómico, mas que é dissimuladamente instrutivo e mesmo preocupante em tempos de crise.
A crise da Europa (desenvolvimento económico e credibilidade orçamental), não é a mesma da América (onde a fábrica de fazer dólares transfere os custos do endividamento excessivo para fora das fronteiras), nem a dos países em desenvolvimento (que disfarçam as suas deficiências estruturais e sócio-económicas dando-lhes nomes criativos) ou a dos pseudo-estados onde as únicas coisas não virtuais são a guerra, a corrupção, a pobreza e a desesperança.
Os meios de comunicação actuais pretendem que o presente modelo de civilização está a chegar ao fim, que a democracia política e a economia liberal estão em decadência. Porém, basta ler uns livros de História para saber que cada época tens as suas crises e os seus desafios. Nunca são iguais, mas pode-se sempre aprender alguma coisa para tentar evitar cometer erros semelhantes. Sugerem também que é nas fronteiras distantes dos impérios que as mudanças aparecem com maior clareza e gravidade ou que é nos países periféricos que as resistências se esgotam primeiro.
Tal como a evolução da vida, as sociedades avançam por tentativas, há caminhos que acabam em becos sem saída, que recomeçam noutro lugar ou voltam a um ponto mais atrás. Tudo é composto de repetições, estagnação, recuos e avanços. De cada vez que a luz da civilização brilhou mais forte num local, todos os bárbaros se sentiram atraídos, acabaram por a invadir, a abafar, a fizer retroceder, até mais tarde voltar a brilhar de novo para um espaço maior e recomeçar o ciclo.
No presente, estamos para lá do ciclo da civilização eurocêntrica. A Europa espalhou pelo mundo a sua cultura, que de boa vontade ou relutantemente, foi assimilada até certo ponto. Hoje, todos os países têm um grupo social, geralmente a elite político-económica, que tem o mesmo modelo, digamos “ocidental”, como referência. Da mesma forma que no império romano existiam elites romanizadas com graus de cultura e qualidade de vida equivalentes, mas em percentagens muito diferentes segundo as regiões, assim acontece com os países actuais. Se nos países da Europa e nos estados da América do Norte a grande maioria da população vive de forma bastante igual, essas percentagens vão descendo com o grau de desenvolvimento de cada região, até níveis residuais nos países menos desenvolvidos, ou não existem efectivamente nos estados falhados.
         A comunidade internacional tem uma “civilização” comum, embora de origens culturais diferentes. Falam as mesmas línguas, têm as mesmas referências universitárias, lêem os mesmos livros, exprimem opiniões de forma semelhante sobre o estado do mundo, embora as convicções e pontos de vista possam ser diferentes. Tudo é uma questão de percentagem de gente com uma “civilização” comum, em cada região do mundo.
Esta crise vai passar, como todas as outras crises anteriores e as crises seguintes. No caminho, irá fazendo desaparecer progressivamente conceitos que se julga hoje indispensáveis, como os de equilíbrio geoestratégico, de equidade económica, de nação-estado. Mudando coisas que parecem pequenas mas que virão a revelar-se fundamentais no futuro, como a correlação cada vez maior entre saber e riqueza, entre ignorância e pobreza, numa linha de quebra cada vez mais larga e cada vez mais transversal a continentes e fronteiras. Mantendo aquilo que é consequência da natureza humana, como as superstições colectivas que cimentam as sociedades e mantêm os correspondentes antagonismos, assim como o apego à propriedade individual, sem a qual não há esforço para criar riqueza que possa depois ser parcialmente repartida. Tudo isto são consequências imparáveis da globalização.
Vista de Washington, a Europa é o único parceiro natural nesta evolução, com a mesma comunidade de objectivos e valores. Com diferenças por vezes irritantes, como a cacofonia nas organizações internacionais e os nacionalismos retrógrados na participação nos negócios do mundo. Com o conforto da familiaridade das qualidades e defeitos. As diferenças nacionais são exploradas sem remorsos para obter vantagens económicas, forçar decisões e estabelecer parcerias. Neste contexto, Portugal não é um pais importante, mas também não é um país insignificante, embora esta constatação, tal como transparece no tal mapa humorístico que se encontra em Georgetown, se aplique a muitos outros países. Todas as coisas são relativas e as crises também.
Cada tempo histórico tem as suas tormentas, todas as tormentas acabam por passar. O que parece agora importante é a responsabilidade das gerações presentes e o legado que irão deixar aos que virão a seguir. Mas todas as crises constroem as suas esperanças, a crise presente pode ser a provação que fortalece a integração europeia e o reconhecimento da interdependência global. A oportunidade de tomar as decisões certas no tempo possível, o aproveitar da ocasião que não voltará nos mesmos termos, são comuns aos grandes impérios e aos pequenos países, às colectividades como aos indivíduos. Do the right thing. Se cada um fizer o seu dever dentro das suas capacidades, o mundo em que vivemos poderá tornar-se melhor.  São estes os votos para o novo ano.
JSR

Sunday, December 26, 2010

13 - O Temporal (The Blizzard)

The House in Bethesda
Após o mau tempo na Europa, o mau tempo na América… “a blizzard looms for East Coast”.
No intervalo, a família dos dois lados do Atlântico conseguiu finalmente reunir-se em Bethesda (Washington) para o Natal.
Mas agora o Ano Novo em Nova York está sob aviso da meteorogia: “the storm bringing a rare white Christmas to the South will turn into a blizzard across the mid-Atlantic and New England, a nightmare awaits holiday travelers”.
Significativo, como uma tempestade de neve é considerada pelos ingleses como um “big freeze” e pelos americanos um “blizzard”. A diferença é mais do que semântica, é da própria natureza e também da cultura. No congelador dum lado, um temporal do outro.
Um oceano no meio.
JSR

Monday, December 20, 2010

12 - No Congelador (The Big Freeze)

The Big Freeze
Published 30/12/2010 by "Jornal do Fundão"

A Europa do Norte congelou no princípio das férias do Natal e a previsão meteorológica indica que não vai descongelar até ao fim do ano. Os ingleses chamam-lhe “the big freeze”. Os aeroportos encerraram, os comboios pararam e as estradas entupiram. Podem ser os ciclos normais do clima, pode ser o aquecimento global que extrema as variações sazonais, pode ser o planeta Terra a lembrar que a humanidade não é mais do que uma espécie de progressão bolorenta na casca duma maçã.  
Contam os mais velhos que antigamente era assim, o que quer que eles (e sobretudo elas, que vivem mais tempo) queiram dizer por “antigamente” e “assim”. Mas antigamente não havia milhões de pessoas a deslocarem-se para se reunir com as famílias nesta época do ano, pessoas encalhadas no percurso, exasperadas, por vezes irracionais. Quando nevava assim e tudo gelava, as pessoas ficavam em casa, com a família e na sua comunidade. Antigamente as pessoas não ficavam surpreendidas que ninguém mais se ocupasse delas, não ficavam desamparadas sem o “big brother” que tudo resolve, não ficavam dependentes da possível responsabilidade de outrem para as ajudar.
O rigor do Inverno sempre concentrou as atenções de todos, geração após geração, pois a selecção natural favorecia a sobrevivência dos previdentes, dos que em devido tempo semeavam, colhiam, amealhavam. Esses ultrapassavam os períodos de frio, as secas, e mesmo as longas viagens de exploração. Alguns dos descendentes desses sobreviventes degeneraram. Atiram-se ao caminho sem se prepararem, sem se informarem se as estradas estão transitáveis, se os comboios podem partir, se os voos estão confirmados. É evidente que alguns não têm escolha, mas à maioria falta-lhes discernimento. Depois queixam-se das consequências, algumas vezes com razão, muitas vezes sem ela.
Na Europa do Sul há outros problemas, mas pelo menos o clima é menos rigoroso. As cigarras vão sobrevivendo, mesmo que as formigas do Norte já estejam fartas de contribuir para as sustentar, o equilíbrio ecológico (e económico...) necessita da diversidade. Os aeroportos raramente fecham por causa do tempo, a natureza fez deles um melhor “hub” ou trampolim transcontinental, não faz sentido geográfico que um passageiro entre Lisboa e as Américas tenha que andar para trás para passar por Londres, Frankfurt ou Paris. Mas como é nestas cidades que se concentram a maioria dos passageiros e das actividades económicas, a geografia natural passa a segundo plano em relação à oferta de bilhetes das linha aéreas nos períodos mais procurados.
E assim vão os nómadas contemporâneos, dormindo no chão dos aeroportos, nas estações ferroviárias ou rodoviárias, nos automóveis ou em qualquer ponto do caminho. Comendo as últimas bolachas e bebendo a última garrafa de água, dos restaurantes e das máquinas de venda automática. Alguns mais informados ficaram nas suas casas, à espera de uma aberta que os deixe partir. Mas a migração não pára, no fim do caminho está a reunião com a família, a relva que é sempre mais verde do outro lado, a terra prometida.
Porque é o Solstício de Inverno, quando as horas de luz começam a aumentar em relação às horas das trevas, a memória ancestral faz renascer a esperança contra todas as evidências do mau tempo que faz. Porque, mesmo que não se consiga observar o eclipse da Lua, sabemos que a “Casta Diva” continua impávida acima das núvens. Porque podemos sempre ouvir a encantação da Callas na “Norma” de Bellini, para tornar os atrasos mais suportáveis. Porque faz parte da natureza humana nem sempre ser racional. Porque todos esperamos chegar a tempo ao destino.
JSR

Tuesday, November 16, 2010

11 - Porque Não Se Calam?

Voices
Published 18/11/2010 by "Jornal do Fundão"                              
O ruído acerca de Portugal tem sido intenso nos media internacionais. Primeiro associaram a situação financeira do pais à Grécia, agora é à Irlanda, amanhã será à Espanha. Não há aí surpresa, muitos dos investidores na dívida soberana dos estados têm o comportamento dos pardais, sensíveis à menor nuvem dos insectos de que se alimentam e aos ventos que os arrastam. Nem se interessam pelas diferenças reais entre as situações de cada um destes países. Além disso, as relações incestuosas entre as agencias de rating, as grandes casas financeiras, os fundos de investimento e as publicações especializadas, são por demais conhecidas.
Também não há surpresa no espectáculo dado no parlamento português onde, como em todos os parlamentos democráticos, se dizem com a mesma convicção as maiores verdades e os maiores disparates, com todas as nuances possíveis entre as duas posições. É o papel dos parlamentares, reflectir as preocupações dos seus constituintes, as suas crenças ideológicas e até as suas ignorâncias. É raro, embora por vezes aconteça, que aí se revelem grandes preocupações com os autênticos interesses do Estado. Felizmente, ninguém dá grande importância, nem nacional e ainda menos internacionalmente.
Todavia, quando são os representantes do Estado, os governantes e aqueles que poderão vir a sê-lo, mesmo não constituindo ainda um “governo sombra”, então é outra coisa. Esses são ouvidos e com atenção. Sobretudo quando aparecem facções dentro duns e doutros, sinais inequívocos de instabilidade presente e futura. Nas últimas semanas, houve muitos que falaram demais. O Presidente da República teve palavras de calma, como lhe compete, mas já lhe deram excelentes ocasiões de fazer como o rei de Espanha (diante da diarreia verbal de Chavez) e interpelar mais directamente: Porque não se calam?
O espectáculo é deprimente para quem vê de dentro e ridículo para quem avalia de fora. Neste pretenso pais de marinheiros, muitos tripulantes  de água doce esqueceram a regra fundamental: não se muda de comandante nem se atrapalha a tripulação do navio durante uma tempestade. As perguntas são inevitáveis: Mesmo que achemos que o navio está a ir ao fundo? Mesmo que eles se atrapalhem sozinhos? As respostas também são inevitáveis: Sim e sobretudo. O que cada um acha é secundário em relação à salvação de todos e se o navio tiver mesmo que ir ao fundo, ao menos que isso aconteça com dignidade.
O pais atravessa uma grande tempestade e todos os sinais de mau comando, de desordem, de confusão, só vêm reforçar as piores suspeitas de incapacidade de governação (presente e futura) e, por consequência imediata, de incapacidade de conseguir as reduções orçamentais aprovadas. E ainda menos de implementar a seguir as reformas da economia. Daí até à imposição efectiva de uma supervisão externa vai um passo cada vez mais pequeno.  
      Porque não se calam, ao menos o tempo suficiente para ouvir o clamor inquietante das vagas que sobem sobre a amurada?
         JSR 

Friday, November 12, 2010

10 - Mitose - Mitosis

Em resposta a vários pedidos, este blogue foi dividido em quatro blogues interligados, tal como descrito à direita da página da frente.
Alguns leitores comunicaram que o progresso de quatro linhas diferentes de textos estava a criar confusão. Realmente, manifestaram a preferência para seguir em sequência, ou a espécie de folhetim que são as aventuras da restauração da casa, ou as memórias nostálgicas, sem terem que procurar entre todos os outros textos…
Bem, está feito. 
                                                                       ---------

Responding to several requests, this blog is being divided into four inter-related blogs, as described to the right of the front page.
It was claimed by some readers that the progress of four different lines of posts was creating confusion. Actually, they indicated the preference to follow in sequence, either the soap-opera-like adventures of the restoration of the house, or the nostalgic memories, without having to search amid all the other posts…
Well, it’s done.

JSR

Monday, November 8, 2010

9 - O Prestígio das Nações

Triumph of Fame - Pieter Coecke van Aelst

Published 11/11/2010 by “Jornal do Fundão”                                   

O prestígio das nações manifesta-se de muitas formas, uma das quais é a credibilidade, esta resultando de factores objectivos, subjectivos e históricos. Portugal está em crise de credibilidade junto dos mercados financeiros internacionais. Outra vez. Talvez seja oportuno perguntar quando é que Portugal não esteve em crise durante a sua história recente. Raras vezes. Políticos, economistas e comentadores, consideram que o país está a ser injustamente vitimado pela especulação financeira. Injustamente e especulação, são avaliações subjectivas para os factos objectivos de que o país está excessivamente endividado e de que existem dúvidas acerca da sua capacidade de pagar o que deve. Não só entre os credores das que já contraiu, mas sobretudo entre os possíveis investidores acerca dos empréstimos que continua a precisar de contrair. 
Os portugueses consideram nas sondagens que estão agora a viver pior, que há mais desemprego, que o Estado os abandona e que os governantes só se preocupam com os seus interesses pessoais. Esta avaliação depende da data a partir da qual a comparação é feita, mas em todo o caso, os que respondem às sondagens só se podem estar a referir à prosperidade artificial criada pelos fundos de coesão e pelo crédito fácil após a entrada na Comunidade, agora União Europeia.
A economia funciona nesta altura com “balões de oxigénio” do Banco Central Europeu, porque os Bancos portugueses já não se conseguem financiar nos mercados. O Bundesbank já fez conhecer as condições para continuar a ser o lender of last resort da União. Mas a grande preocupação nacional parece ser a possível volta do FMI e da disciplina imposta como “condicionalidade” para os seus empréstimos. Todavia, com essa garantia de supervisão restaura-se uma parte de credibilidade, embora pequena e transitória. Porque entretanto, vai ser preciso explicar porque não têm sido feitas as reformas necessárias para o crescimento da economia. E sem crescimento da economia não há credibilidade nenhuma.
Estas considerações poderiam continuar indefinidamente, mas vale a pena juntar um pouco de análise.
Não existe igualdade entre os países a não ser na teoria retórica dos tratados. Fora condições excepcionais, ninguém no seu perfeito juízo consideraria que têm a mesma credibilidade a Rússia e os Estados Unidos, o Irão e a França ou a Nigéria e o Japão. Existe efectivamente uma hierarquia de países que informa o julgamento daqueles que tomam decisões de carácter internacional.
Todos conhecem as distinções entre os vários graus de desenvolvimento, de poder militar e económico, de influência cultural e também de capacidade de incomodar (the nuisance factor...). Daí que não sejam efectivamente tratados da mesma maneira os países que enfrentam dificuldades semelhantes. Os mais poderosos fazem mudar os critérios que não conseguem cumprir, os mais fracos têm que cumprir rigorosamente as regras. No caso de incumprimento, a guilhotina cai primeiro sobre os países menos credíveis nas suas promessas de reentrar na ordem sem o incentivo duma autoridade exterior como o FMI. Para a classe politica de alguns países, la peur du gendarme est le début de la sagesse...
A Grécia perdeu a credibilidade porque tem falsificado as suas estatísticas, tem abusado das politicas europeias de coesão, permite níveis de endividamento público incomportáveis para financiar infra-estruturas e serviços eivados de corrupção, pensões em idades ridiculamente baixas, um fisco incapaz de combater a fuga generalizada aos impostos e por aí fora. Hoje, quando se pensa na credibilidade da Grécia em termos económicos, não conta o facto dos seus antepassados terem criado a cultura que está na origem da nossa civilização ocidental, mas todos pensam nos muitos séculos em que o país foi uma província do império otomano e da influência que isso teve na sua forma actual de estar no mundo.
Em relação a Portugal o défice de credibilidade é menor do que o dos gregos, as estatísticas são mais fiáveis, a classe média mais honesta (e por isso mesmo taillable et corvéable à merci pelos sucessivos governos) e ninguém duvida da competência dum grupo considerável de profissionais com exposição internacional. Por outro lado, o endividamento tem sido imprudente, a corrupção chega ao mais alto nível, a justiça é demasiado lenta, a produtividade baixa e a educação laxista. Também ninguém toma em consideração o papel do país na descoberta do mundo durante o renascimento europeu e o primeiro mercado global, a não ser nas cortesias diplomáticas, mas todos os decisores que contam sabem dos longos anos em que o país foi efectivamente um protectorado britânico, da desordem recorrente das finanças interrompida apenas durante o consulado salazarista e da incapacidade atávica de manter a coerência no desenvolvimento económico.
Por isso Portugal vai continuar a ser injustamente tratado pelos mercados. Só deixará de o ser quando tiver uma política económica sustentável e as finanças equilibradas. Quando tiver uma legislação laboral e um mercado de habitação, competitivos e livres de interferências ideológicas. Quando tiver uma justiça eficaz, um sistema educativo que reconheça o mérito do esforço individual, quando as protecções social e de saúde forem proporcionais aos meios e às necessidades. Para que tudo isso possa acontecer é indispensável que os cidadãos sejam mais instruídos, responsáveis, produtivos, empreendedores e lúcidos nas suas escolhas politicas. Entretanto, o retorno do FMI seria o menor dos males que esperam o país durante estes próximos anos difíceis.
---
Notas: 
        Outro dos factores de prestígio de cada pais é a imagem projectada pela maioria dos seus cidadãos através dos media, das relações comerciais ou turísticas e dos seus residentes no estrangeiro. É importante para o reconhecimento exterior dum país com pouca população, que consiga ter alguns dos seus nacionais nos mais importantes centros de decisões internacionais. Como são o presidente da Comissão Europeia, o director para a Europa do FMI ou um vice-presidente do Banco Central Europeu. Assim como são importantes os cientistas ou os artistas de valor. Mas a imagem de Portugal e dos portugueses é dada sobretudo pelas grandes comunidades emigradas. Gente trabalhadora, desembaraçada e que se integra facilmente, mas em geral com pouca instrução, pouca participação politica e portanto fraca consideração social nos países de acolhimento. Por isso as excepções não têm grande consequência, precisamente por serem entendidas como excepções. Embora possa ser agradável para a auto-estima de alguns que o melhor treinador ou o melhor jogador de futebol do mundo sejam portugueses, o que aumentaria realmente o prestígio do país seria se a selecção ganhasse campeonatos...
          JSR

Friday, November 5, 2010

8 - Leão Tolstoi na Beira Interior

Camille Pissarro - deux paysannes
Passar o fim de semana de Todos-os-Santos na Beira Interior é uma viagem no tempo. Um tempo não muito remoto, a grande maioria dos portugueses está ainda ligada à terra e aos seus costumes. Há os que vivem no campo, os que lá têm os pais ou os avós, ou que ainda têm propriedades que herdaram destes, e finalmente há os que voltam para lá porque restauraram casas ou adquiriram terras.
Enchem-se as aldeias, os cemitérios e os mercados. Casas fechadas quase todo o ano abrem portas e janelas. É o grande marco do ano agrícola, pagam-se ou recebem-se rendas do ano que terminou e fazem-se contratos para o futuro.
Passam invasores, fazem-se revoluções, mas as relações entre os camponeses, os proprietários de terras e o poder, qualquer que ele seja, continuam semelhantes. O que Leão Tolstoi escreveu no seu livro “Ressurreição” é ainda actual *:
Nekhludoff spoke clearly, and the peasants were intelligent, but they did not and could not understand him, for the same reason that the foreman had so long been unable to understand him. They were fully convinced that it is natural for every man to consider his own interest. The experience of many generations had proved to them that the landlords always considered their own interest to the detriment of the peasants. Therefore, if a landlord called them to a meeting and made them some kind of a new offer, it could evidently only be in order to swindle them more cunningly than before.”       
Enquanto o poder é do tipo feudal e a economia se baseia na agricultura, as relações entre as classes camponesas (senhores e trabalhadores) mantêm-se e replicam-se ao longo de gerações. Quando a economia se diversifica e a urbanização predomina, entra-se num ciclo de renovação social.
Os senhores e os camponeses que conseguem furar a barreira social (administrando as terras de outros, adquirindo as suas próprias terras e enriquecendo), uns e outros enviam os filhos para a cidade a estudar. Os filhos acabam por ficar na cidade, mas vêm regularmente visitar os pais e interessam-se pelos lugares onde nasceram e as propriedades que aí possuem. Quando os pais morrem, entregam a administração a feitores ou familiares, alguns dos quais progressivamente enriquecem por sua vez. Quando os filhos dos proprietários originais morrem, os netos vendem as terras aos feitores ou a outros camponeses que assim aumentam as suas posses. Os quais mandam os filhos estudar para a cidade e o ciclo recomeça.
A pouco e pouco, ou por vezes muito rapidamente, dependendo dos lugares e das circunstâncias, a população rural diminui e um novo fenómeno acontece. Com a rarificação da mão de obra, os proprietários ausentes conseguem rendas cada vez mais baixas até que têm que entregar as terras aos rendeiros (que já não justificam o nome) apenas em troca de que o seu aproveitamento para cultivo, pastagens ou floresta, evite que se tornem em mato selvagem. Quando isso acontece é preciso então pagar a alguém para as voltar a desbravar e as manter limpas. Até que mais tarde os descendentes se cansem e as vendam. São as sociedades agrícolas, muitas estrangeiras, que vão comprando as parcelas e reconstituindo latifúndios.
O grande ciclo completa-se com o retorno ao feudo, desta vez informatizado e mecanizado. Continua a haver uma classe de servos da gleba, cujo número se reduz, embora sejam cada vez mais bem pagos. Como resultados da lei da oferta e da procura, da evolução da economia e de muitos anos de miopia politica,  progride a desertificação do interior, aumenta a dependência externa e diminui a riqueza nacional.
JSR

Monday, October 25, 2010

7 - Some Pitfalls of the Global Village

Marylyn
 strutting her (pretty) stuff
 in anticipation
 of a social network debut…  
Long gone are the times when it was possible to entertain a concept of splendid isolation, of whatever from if may have been. These thoughts come about, brought by the trifle question of the Albatross joining Facebook, after much prodding, nagging and shunning…
Time and again he heard, “Ah? You didn’t know (about this or that)? But I put it on Facebook! Sorry I didn’t realize (or know, or remember) that you haven’t join in, yet”. That “yet” was the killing word, the unavoidable fate beckoning.
The fact is, it is no longer possible for a person to get lost without a rescue team being sent to bring the strayer back to the flock, for a community to cut ties to the state without the police enforcing whatever laws may apply, for a tribe to be left alone in the jungle without being invaded by do-gooders and busybodies trying to “help”, for a nation like China to close its borders to foreigners again, or for the United States to turn their back on the folly of foreign wars.  
Today we all live in a global village. The news are full of cats flattened at the antipodes, nobodies arrested for drug offenses and confused minds discussing trivial activities or imaginary beliefs. This is served to us everywhere and at all times, mixed together with serious scientific, political, social and economic issues. Frequently, there is no discernible sense of importance or priority, everything seems to be treated like a reality show for the gullible. Barnum’s quote: “There's a sucker born every minute” may be falsely attributed but rings true, because we are all treated as such.
There is no longer a widespread respect for, a sense of, or even the understanding of, the need for privacy. Almost everybody publishes everything, everywhere, anytime, about themselves and the others. We are all becoming Japanese, in the quaint and possibly alarming sense discovered by a foreign teacher at one university in Tokyo, when a neighbourhood policeman knocked at his apartment door and asked: ”Your little daughter passes in front of our station every morning on her way to school. Today we didn’t see her. Is anything the matter?"
Then, the contents of all this advertising of little nothings and momentous events in the same nauseous cacophony, makes forever present the Eleanor Roosevelt’s (apparently true) quote: “Great minds discuss ideas; average minds discuss events; small minds discuss people”. We are all lost in oceans of people, rivers of facts and rare springs of ideas.
P.S. note for the critics engaging in the exegesis of the paragraphs above: there is actually a discussion of people and facts, but the ideas of freedom and privacy were supposed to inspire the text, although the absence of a great mind writing this may not have made it so obvious… 
JSR

Tuesday, October 19, 2010

6 - Intervalo para avaliação - Pause for evaluation

Balança Romana
Passou um mês desde que este blogue foi iniciado como uma experiência privada. Antes de o abrir aos outros, está a ser pedido a alguns membros da família e amigos próximos para o avaliarem objectivamente, embora por serem família e amigos qualquer avaliação pode ser objectivamente distorcida.
Ainda nem todos foram consultados. Todavia, já foram recebidos alguns comentários úteis: perguntas acerca do significado das diferentes categorias de textos; reparos acerca do tom ser ocasionalmente demasiado sarcástico; dúvidas em relação ao mérito de usar o pseudónimo Albatroz; desejos de que seja fornecida alguma informação sobre o seu passado, pois seria útil para compreender a personagem; confusão possível pela referência a alguns acontecimentos do ano, no fim dos textos acerca das aventuras relacionadas com a restauração da casa; e, finalmente, a percepção de desprendimento da parte do narrador, que deveria realmente demonstrar mais emoções pessoais.

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Roman Scales
It has been a month since this blog was started as a private experience. Before opening it to others, a few family members and trusted friends are being asked to evaluate it objectively, although by being family and friends any evaluation may be objectively skewed.
Not all have been consulted yet. However, a number of useful comments were already received: questions about the meaning of the different categories of posts; remarks concerning the tone being occasionally too sarcastic; doubts about the merit of using the Albatross as an alias; wishes that some background information be provided, as it would be useful for the understanding of the character; possible confusion caused by the reference to some events of the year, at the end of the posts describing the travails related to the restoration of the house; and, finally, the perception of aloofness by the narrator, who should indeed demonstrate more personal feelings.
JSR

Friday, October 8, 2010

5 - A Real República

Stormy Seas
Os albatrozes morrem no mar, numa tempestade ou de velhice, um dia não aparecem no local da reunião dos da sua espécie. C’est tout
Mas o nosso Albatroz está en sourcis e recentemente os companheiros da sua geração, membros duma “Real República” de estudantes, vieram visitá-lo na sua gaiola. Por um dia voltaram à juventude, relembraram as dificuldades e as esperanças desse tempo, mas sobretudo contaram as histórias que cimentaram a amizade para a vida, mesmo que cada um tenha partido numa direcção diferente dos outros.
E as histórias que contaram... Para esta reunião trouxeram excepcionalmente as esposas, bem, é certo que os costumes mudaram, mas de certeza vai ser preciso “apaja-las” durante uns tempos (pedindo emprestado este termo a uma amiga, que assim descreve o comportamento do pai para fazer passar os amuos da mãe). A personalidade das pessoas não muda, o Albatroz não via alguns dos que vieram desde os tempos de estudante e esperava que tivessem ao menos aprendido a importância da discrição. Vã esperança, numa reunião de "repúblicos" animados pelas memórias dos velhos tempos.
Na visita guiada à aldeia, depois do almoço, o pé não conseguiu mesmo evitar a argola. A guia turística estava a mostrar a Igreja Matriz e um deles teve que contar como costumavam tirar à sorte qual deles se fazia passar por padre e se ia sentar num confessionário duma das igrejas mais próximas dos lares femininos... com um gravador... 
O resto fica para a imaginação e esta história não é das piores.  
JSR 

Saturday, October 2, 2010

4 - On Ne Parle Plus Français

Regnault - Château de Versailles
Pour tous ceux qui, comme l'Albatros, ont grandi à une époque où le français gardait encore le prestige d’avoir été la langue diplomatique par excellence, ceci dès la grandeur du Roi Soleil, il est un peu triste de la voir progressivement disparaître des fora internationaux. Depuis la dernière guerre, l’anglais a évolué rapidement de lingua franca des échanges commerciaux à l’américain des communications internationales. La mondialisation de l’internet a scellé le destin.
On n’écrit plus des lettres, on envoi des messages. Chaque langue s’est taillée un territoire, mais au-delà, la terra incognita du cyberspace appartient presque exclusivement a une seule mouvance. Ce monde virtuel est aussi un traité de sociologie comparée. Les correspondants de l'Albatros sont, pour la plupart, les survivants de tous les amis, complices, collègues et autres connaissances, faits un peu partout dans le monde. Ils  appartiennent à plusieurs de ces territoires linguistiques et en général gardent, pour communiquer entre eux, la langue de leur premier contact.
Néanmoins, lorsque un message général est envoyé à un cross section de ses correspondants, l'Albatros la rédige naturellement en anglais. À chaque fois les francophones expriment leur chagrin. Un ami (un Breton) demande pourquoi il ne l’a pas rédigée en deux langues, à chaque fois l'Albatros lui répond, pourquoi donc pas en trois, ou quatre, ou cinq, mais d’une fois sur l’autre l'ami pose encore la même question, il se peut qu’il commence à radoter… Une amie Canadienne (officiellement bilingue) le boude systématiquement après comme traitre à la francophonie, mais enfin, la raison ne sied pas toujours aux raisons des femmes... Le comble, cet un ami de Côte d’Ivoire, le même qui lui a raconté un jour, entre des gros éclats de rire, comment dans le temps on a fait apprendre à l’école l´histoire de «nous ancêtres les gaulois», à lui, un noir africain. Mais il fait aussi des remontrances à l'Albatros au sujet de son devoir d’aider les espèces linguistiques en danger…
Il y a encore des organisations internationales qui sont officiellement bilingues, ou ayant plusieurs langues de travail, mais l’usage et le souci d’économie vont inexorablement dans le sens de l’uniformisation. C’est dommage. On participe de moins en moins dans ces réunions ou conversations, où on glissait seamlessly entre plusieurs langues sans même s’en rendre compte. Bon… seamlessly, voilà comment se fait le saut, un mot étranger qu’exprime plus exactement ce qu’on voulait dire et après la conversation continue dans l’autre langue.
L’aspect le plus important de la diversité linguistique est souvent oublié: chaque langue est simultanément le résultât d’une culture et conditionne aussi l’a formation ou l’évolution de la pensée de ceux qui l’apprennent des l’enfance. Toutefois, cela transparait dans les généralisations courantes concernant plusieurs langues et l’évolution des peuples qui les pratiquent: L’anglais, une langue complètement métissée, bâtarde dans toutes ses composantes, le saxon, le danois, le normand, est toujours la plus ouverte aux innovations. L’allemand, comme le latin, avec ses déclinaisons favorise la rigueur de la pensée formelle, mais d’autre part se compose et se décompose, entre une langue érudite et des dialectes vulgaires. Le français, comme les autres langues latines, oscille entre la liberté des origines qui demande un raisonnement logique pour subsister et des tentatives de défense frileuse d’une pureté imaginaire. Le chinois, comme d’autres langues écrites en idéogrammes, appelle a une mémorisation massive et diminue d’autant la flexibilité intellectuelle et capacité d’invention. L’arabe, son imprécision poétique explique probablement l’incapacité de beaucoup de ceux qui l’ont comme langue maternelle à maintenir la séparation entre la fantaisie de leurs désirs et la réalité des faits.
Le plus grand espoir pour la paix dans le monde, réside dans l’éducation et le développement, pour tous et pour chacun. L’éducation ne doit pas, ne peut pas, consister seulement dans l’apprentissage de la langue, de la culture et des croyances d’une communauté. Il faut aussi connaître le patrimoine de son temps, les mouvances de la pensée, de la science, des techniques, dans une langue ouverte sur l’extérieur. Dans un monde de plus en plus petit et intégré, il faut la capacité de communiquer avec, de comprendre et d’accepter, les «autres».
 Plusieurs langues on eu historiquement le rôle de véhicule commun dans des ensembles de territoires ayant des langues différentes: le grec, le latin, le chinois, l’arabe. La première langue de communication globale a été le portugais du temps de la découverte du monde. Après, les empires commerciaux et coloniaux ont ajuté le castillan, l’anglais, le français et le néerlandais, dans leurs territoires respectifs. La compétition entre puissances européennes a vu la montée progressive de l’anglais, comme langue d'un empire dispersé sur le monde entier d’abord et ensuite comme moyen de communication universelle. Tant que durera notre civilisation technologique, il faut l’apprendre partout dès l’entrée à l’école, un important facteur de survie individuelle et collective, que cela plaise ou non. 
JSR

Thursday, September 30, 2010

3 - O Centro do Mundo

 Heinrich Bünting, Itinerarium Sacrae Scripturae.
Magdeburg, Germany, 1581
Quando insistem em fazer pousar um viajante dos ventos alíseos, ao menos que haja por perto um computador ligado à internet. Assim, qualquer lugar pode ser o centro do mundo. Por vezes, o centro do mundo está numa aldeia histórica. Até há internet (ou pelo menos paga-se para isso), mas só desde que não haja nem vento, nem chuva, nem trovoada e que todas as encomendações sejam feitas regularmente aos deuses tutelares da PT. Os funcionários são pacientes q.b. ao telefone, mas impotentes, porque as linhas são soluçantes e a velocidade da banda larga é geralmente igual à de uma lesma artrítica.
A PT lança-se à conquista do mundo, com os pés de barro do seu mercado interno: “estimado cliente, existe uma anomalia técnica na zona onde se encontra”. Boa sorte. Centro do mundo... Comunicar com Tóquio (mais oito horas que o TMG) ou Washington (menos cinco), acontece geralmente em períodos de overload. Por isso são frequentes as conference calls que deslizam para o meio da noite, o que explica porque o Albatroz acaba muitos vezes como um passarão solitário...
JSR

Saturday, September 25, 2010

2 - Beyond Political Correctness

World Sphere
Nine years already since 9/11. Almost two years since the election of Barack Obama to the US Presidency. What is the state of the world?
Every time we put gasoline in our cars, every time we buy any oil-based products, we are in fact helping (the Saudis, a bunch of Arab emirs, several tin pot strongmen in Africa and Asia, as well as a few others) to finance international terrorism. To some extent, we are emulating the decadence bound Romans in their concessions to the barbarians, who used the territory and the knowledge acquired from a scientifically and culturally more advanced civilization to ultimately destroy the empire. The result was the long, ignorant, superstitious, miserable night of the Middle Ages.
In Europe, the Renaissance lifted the Western regions towards the primacy of reason and experimentation over blind faith, the discovery of the world, the economic, scientific and cultural progress. Not so in the areas where the rights of the individual are still crushed by the dominant power structure, entrenched and aberrant social organizations based on holy books by ancient religious prophets (Abraham’s prolific and quarrelsome offspring), philosophers (Buddha, Confucius, Marx/Engels/Lenin), or just demented leaders like Mao, Smith of the Mormon angel, Hubbard and his Scientology aliens, or any other sprouts from the latest hallucinogenic rainfall.
As happened before in human history, the civilization's drawbacks are either forcibly brought up to date by emerging and ruthless powers (the survival of the fittest) or, if the forces of progress erode by complacency, they are ultimately destroyed by obscurantism and greed.
A small part of the world built painfully and over a long time a space of freedom, knowledge and development never attained before. With the all-encompassing globalization, the results are there for all to see… and to lust after. Of those outside the lands of plenty, there are two reactions. The earnest want to emulate that way of life, or jump geographic and political barriers to join it. The tortuous, those exploring the entrenched ignorance of their flock, the resentful retarded, they all wish to destroy what they perceive as a threat to themselves.
Enter Obama, a product of mixed races, mixed cultures, a likeable, eager and from all accounts honest man, who reaches the top of the western world. The intelligentsia and generally the thinking part of the population welcomed him. They think he will be capable of building bridges between civilizations, cultures, prejudices, and competing interests. However, they actually do not know their own real world and even less the rest of the world. Obama brought forward all the bigotry in America and elsewhere.
         The Albatross has heard a Black-American friend’s snide remark that the President is only half black, meaning that a full black would never have been elected, a reminder of the Washington's black establishment that dwells on shades of skin color and harps on about the “red bones” enjoying a special status. The Albatross has heard an Arab-American professional acquaintance repeat the slur that Americans have became so helpless that they elected to lead them the descendant of a former slave (which is also factually untrue). The Albatross has heard a white American complain that Obama will sell the American dream for a socialist welfare state. 
The grudging respect that the white man still encounters in the formerly colonised territories is a fact to take into account in any kind of international relations. As an anecdote, the Albatross once travelled to China, Japan and other asian countries at the invitation of an older and senior South Asian colleague, a top ranking international bureaucrat. Everywhere (airline counters, hotel desks, restaurants and worst, government offices) to the Albatross' embarrassment they would immediately assume that he was in charge, they would speak to him and ignore his colleague. Actually, when it was the case, they would also present him with the bills…
This is to say that very often the developed, largely secular, trying hard to be politically correct world, completely misses the reality out there. In Africa, Obama is expected to act as the tribal brother who succeeded and his expected to favour, support, and promote his kin, his people, his father’s nation and his ancestry’s continent. He cannot do so and is therefore increasingly dismissed by the street as a cast off. In the Middle East they try to hoodwink him at every corner, in the best carpetbagger’s tradition. In Asia, the most race conscious region on Earth, they often speak of him as being too dark skinned to be taken seriously. It is unfair, it is primitive, it is stupid and it is despairing. It is the reality we all live in.
Any doubts? Look at the way the Chinese behave in international affairs. Fortunately, they have their own internal demons to conjure. A country getting rich on the back of slavish labour and a manipulated currency, for the benefit of a few party and military bosses and their business associates, is a social volcano gathering strength.
The Obama travails reflect the challenges of our time. Too much was expected from him, he cannot but disappoint. A large number of the human population still puts more faith in a providential saviour than in individual, collective and sustained effort. Poor or distorted education, helplessness, indolence are still too common. Either it is still time to wake up and fight back together in a constructive manner, or it is too late and the existing few oases of science, technology, culture and freedom, could be fleeting Camelots. 
JSR

Friday, September 17, 2010

1 - Warning

Sometimes,
the gods punish humans
by granting them their wishes.

To the chosen few,
they may instead open up a window
of previously unexplored opportunities. 

JSR

The Horses of Neptune - Walter Crane