Thursday, February 24, 2011

25 - Brasigola

Printing Press
No sítio onde costumava estar Portugal encontra-se já Brasigola, uma entidade entalada entre uma invasão populacional vinda do Brasil (e não só) dum lado e uma compra económica por parte de Angola (e não só), do outro. Um pais metido numa prensa, com muitas mãos a dar à manivela.
Do lado populacional, uma volta por Cascais à hora do almoço é instrutiva.
No restaurante os empregados são brasileiros e na mesa do lado uns portugueses discutem  turismo com um inglês e um alemão que obviamente aprenderam a língua do Brasil.
Nos Correios, umas raparigas brasileiras esperam vez para mandarem dinheiro para casa, pedem ajuda para preencher a papelada e aproveitam para ir informando que podem ser muito carinhosas a agradecer...
No centro comercial, os rapazes da lavagem de automóveis são brasileiros, as empregadas das lojas são brasileiras, as pessoas que passam conversam com a pronúncia do Brasil, assim como a mulher de meia idade que fala com a caixa Multibanco, dizendo que tem lá dinheiro e não compreende porque o boneco não a deixa fazer um levantamento.
Do lado económico a invasão é discreta, a maior parte do tempo, mas não deixa de se avolumar progressivamente.
Nas reuniões de conselhos de administração de bancos e outras empresas, para além das múltiplas crises, discute-se como sobreviver em Angola e com os angolanos. Quem lá está, quer lá continuar, ou quer lá entrar, tem que pagar a “protecção” local. As formas de pagamento variam, os beneficiários são sempre os mesmos.
Participação no capital em troca de terreno de origem desconhecida para implantação, por associação com empresas que só existem no papel, por nomeação de administradores que só recebem ordenado, ou qualquer outra forma de cobrança. Porque sim, porque decide quem pode e sem decisão não há negócio.
Os benefícios da venda dos recursos naturais fluem também para os mesmos bolsos, por vezes por caminhos ainda mais directos. O que não é gasto em esbanjamento é investido na compra de participações em empresas estrangeiras, de preferência portuguesas, cada vez menos propriedade de portugueses, públicas e privadas, de todos os ramos. Note-se a progressiva mansidão dos... como lhes chamam agora? Ah, órgãos de comunicação social...
Filipe II de Espanha costumava dizer que tinha herdado, comprado e conquistado Portugal. Agora que o país está a ser comprado e conquistado, parece estranho (e ao mesmo tempo promissor) não haver falta de partidos políticos que o queiram herdar...
Claro que tudo isto é um exagero, como hipérbole e em outros sentidos do termo, a misantropia passageira dum dia em que o ataque de spleen é pior do que em muitos outros. 
JSR

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