Wednesday, April 18, 2012

100 - Portugal, a Europa, e Agora?

Götterdämmerung
Published 3/05/2012 by "Jornal do Fundão".

         Esta pergunta já seria maçadora se não se tratasse dum drama nacional. Até seria de resposta relativamente fácil se este drama não se desenrolasse no meio duma tragédia europeia.
Já foi bem explicado qual é a situação do pais, as causas externas e internas dessa situação, assim como as suas consequências: as inevitáveis (o empobrecimento), as prováveis (a limitação drástica do estado social), as possíveis (o desemprego elevado durante um longo período) e os desastres improváveis mas todavia possíveis (a saída do Euro).
Ainda não foi suficientemente bem explicado (excepto por algumas personalidades mais esclarecidas, mas ainda pouco escutadas), porque é que a economia europeia se está a afundar na competição global. Enquanto algumas economias do Norte, particularmente a Alemanha, conseguirem disfarçar o seu próprio declínio com exportações de alta tecnologia e de grande valor acrescentado, os seus governos tapam os olhos aos próprios eleitores para esconderem os problemas que avançam inexoravelmente das periferias para o centro e que também os atingirão mais cedo do que mais tarde.
Mas a pergunta subsiste, nas assembleias políticas, nos meios de comunicação, nas reuniões públicas e privadas, nas conversas de rua, em todo o lado: Então e agora? Como as crianças numa longa viagem de carro, que perguntam de cinco em cinco minutos aos pais: Então, já chegámos?
A resposta é simples: Não, ainda não chegámos e infelizmente não podemos saber quando vamos chegar, pela razão também simples que não sabemos onde vamos. Quem disser o contrário ilude-se e ilude-nos.
Esta fase da crise começou com a desculpa duns activos tóxicos nos USA (acções que não valiam um caracol, mas que as agências de rating, na sua grande sabedoria corrupta, recomendavam a compra aos investidores) e a falência dum Banco que se julgava acima das leis do mercado. Seguiu-se uma cascada de outras falências, a descoberta de várias falcatruas monumentais e a suspeita de muitas outras, numa hemorragia que foi necessário estancar antes que o sistema financeiro mundial entrasse em colapso.
Outras vítimas (também culpadas) foram os países em várias partes do mundo que sobreviviam da acumulação de dívidas que excediam cada vez mais a sua capacidade de pagamento futuro. Governos preocupados em ganhar eleições e infiltrados por interesses privados que sugam os estados enquanto podem, conscientes da sua capacidade de se pôr ao abrigo dos desastres inevitáveis, em paraísos fiscais e países de refúgio.
Mas o grande problema é que a Europa envelheceu e começou a definhar. Com a baixa natalidade e as políticas falhadas de integração dos imigrantes, não consegue sustentar o estado social. Aberta a todas as importações pelos acordos de comércio internacional (mesmo de países governados por regimes autoritários e exploradores dos seus próprios povos) importa a preços mais baixos aquilo que costumava produzir, aumentando o seu próprio desemprego. Nem todos os seus países membros conseguem compensar com exportações nas áreas em que têm vantagens comparativas. Sem exigir a reciprocidade no acesso a contratos e mercados, arruína-se progressivamente.
A Europa perdeu a alma no século passado com as duas guerras civis e o fim dos impérios coloniais. Perdeu a predominância económica, política, militar e sobretudo o respeito próprio, ao ter que aceitar a tenaz da partição imposta pela “cortina de ferro” soviética por um lado e a tutela Americana por outro. Agora, enquanto constrói penosamente a oportunidade de juntar forças para recuperar o seu lugar no mundo, os egoísmos nacionais mal informados tornam cada vez mais penoso o aprofundamento fiscal e politico, indispensáveis para a consolidação da União.
Em Portugal, país pouco europeu por natureza, a desagregação dos mercados coloniais, a perda da auto-suficiência relativa e o consequente emprego na agricultura, nas pescas e na pequena indústria, deixou o país entregue aos interesses duma oligarquia político-económica, incestuosa e apropriadora em proveito próprio dos recursos do estado, que acabou por esgotar o seu crédito.
Após o acordo para a presente ajuda externa, este governo tem o mandato eleitoral, a capacidade e as características próprias de competência e energia, para implementar as exigências da "troika", que são os verdadeiros regentes do país. O que tem estado a ser feito com um sucesso importante, mas parcial.
Um governo de executivos competentes, mas que infelizmente ainda não conseguiu fazer as reformas estruturais previstas, entre as quais a dos serviços do estado e a renegociação dos contratos leoninos oferecidos por governantes anteriores às empresas para onde migraram depois. Empresas que extraem rendas exorbitantes dum estado que contribuíram para levar à falência. Um governo que não tem, também, nem a visão politica para ser capaz, nem a experiência para saber quando, pode e deve descolar da tutela da "troika". No momento próprio.
Embora tenha ganho a aprovação dos parceiros internacionais, não ganhou ainda o seu respeito, não atingiu a força suficiente para renegociar os termos do acordo, em montantes, em tempo e em juros, de forma a conseguir libertar o investimento nas empresas exportadoras e fomentar o emprego nas áreas mais produtivas.
E esse momento era agora. Antes da confusão das mudanças politicas na França e na Alemanha e das convulsões gregas após as eleições. Audaces fortuna adiuvat...
JSR

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