Saturday, March 12, 2011

30 - Um País Diferente

Protesto
As manifestações chamadas da “geração à rasca”, decorreram hoje de forma ordeira e acabaram em comícios num ambiente de festa popular.
Foram por um lado uma demonstração das razões pelas quais esta geração está nesse estado (falta de emprego, precariedade contrastada com aspirações à segurança do funcionalismo público, cursos superiores inúteis para o mercado de trabalho, dependência de subsídios) e foram por outro lado uma fonte de optimismo.
Portugal é realmente um país quase sempre igual a si mesmo, no melhor e no pior, mas diferente dos outros.
Desde o século dezoito que políticos e escritores descrevem o país em termos semelhantes, que em grande parte se aplicam ainda hoje, mas já não totalmente. Contrariamente a outros países em crise, as manifestações de descontentamento tiveram uma participação numerosa e barulhenta, mas pacífica. Não houve aqui as convulsões destrutivas de outros países europeus e ainda menos as multidões ululantes, fanatizadas, aos pulos e aos gritos, como no sul do Mediterrâneo.
Portugal é finalmente um país civilizado.
Nestas manifestações estavam representadas todas as gerações vivas, desde bebés em carrinhos a velhotes em cadeiras de rodas. Notava-se uma certa nostalgia dos movimentos dos anos setenta, uma confusão dos tempos e dos objectivos, das insatisfações sociais e pessoais. Houve palavras de ordem incoerentes (ideais requentados, desbotados, inconsequentes), discursos sentidos (a vida difícil, o futuro incerto) e uma saudável expressão de descontentamento com o estado geral da coisa pública.
Portugal sofre de falta de racionalidade na governação.
Nesta geração há também os que se esforçam, os que adquiriram conhecimentos úteis, os que trabalham, os que pensam, os que são independentes e sabem ser audazes. Fazem menos barulho, mas não é difícil encontrá-los. Estão dentro e fora do país, inovam, criam empresas e fazem-nas crescer. Poderiam ser mais numerosos e a mudança deveria ter sido mais rápida, porque assim já não vai chegar a horas para muitos. O peso a carregar é grande e vai ser preciso dar tempo ao tempo até que a situação melhore.
Portugal precisa de inspiração e de esperança.
JSR

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