Thursday, April 14, 2011

38 - A humilhação e o sofrimento - O Fim da Terceira República (6)

L'umiliazione di Canossa
6. A humilhação e o sofrimento
Para o país, este é um tempo de humilhação internacional e de sofrimento nacional.
A humilhação internacional é provocada pela trágica incompetência do governo na gestão da coisa pública, pela transparência infantil da estratégia usada por esse mesmo governo ao sacrificar o bem da nação à sua sobrevivência partidária no poder, pelo espectáculo lamentável de provincianismo nas querelas actuais da classe política, e sobretudo, humilhação maior e mais duradoura, pela imagem que fica de menoridade política dum povo. Finalmente, pela falta de dignidade em deixar sem resposta e sem retaliação apropriadas, algumas declarações públicas de responsáveis de instituições e países, acerca de situação portuguesa. Mas onde estão os dignitários nacionais e a diplomacia? Há uma enorme diferença moral entre estar falido e ser pusilânime. 
O sofrimento nacional já começou com as meias-medidas dos PECs. Mas as condições impostas para o empréstimo do Fundo Europeu e do FMI, embora necessárias, vão ser muito mais duras de suportar para um país mal habituado ao esforço e à disciplina, sobretudo durante um longo período. As reestruturações do funcionalismo público, das empresas públicas e privadas, as privatizações, vão aumentar o desemprego. O aumento dos impostos, as diminuições de salários e pensões, o aumento dos juros dos empréstimos da habitação, a subida dos preços dos combustíveis e da alimentação, vão empobrecer as classes médias e desesperar os mais carenciados.
Neste momento o país pode recorrer à ajuda externa de quem puder, mas o peso das dívidas e dos seus juros já é tão grande que a economia não se pode desenvolver. A depressão económica é uma doença cuja agonia é dolorosa e lenta para toda a população, mas obviamente muito pior para os mais desfavorecidos e mais frágeis.
É preferível o choque dum tratamento enérgico que salve e devolva a saúde o mais depressa possível. Esse choque implica o reconhecimento que é melhor declarar honestamente que o peso dos encargos é excessivo e que o barco pode ir ao fundo se não se deitar pela borda fora o excesso de carga, ou seja, a parte da dívida que não se conseguirá pagar.  
Quanto mais cedo melhor, menos sofre a população e mais depressa retoma a economia.
(continua)
JSR

2 comments:

  1. Em terminologia médica, parece-me que foi feito um diagnóstico correto da actual situação do país.Venha agora uma proposta terapêutica eficaz e um prognóstico sem reservas.

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  2. Os próximos capítulos concretizarão essa proposta, na medida do possível, porque a economia, como a medicina, não são ciências exactas. Tenho mesmo dúvidas de que à economia se possa chamar ciência.

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