Thursday, December 1, 2011

76 - O Rapto da Europa

Polonia Restituta
 (Odrodzenia Polski)
A Europa (o que significa hoje, por ordem de importância: a zona euro, a União Europeia e todos os países que constituem esta civilização coerente), está nesta altura entregue a uma geração política medíocre. Mais de meio século de progresso conquistado com inteligência, perseverança e trabalho árduo estão em risco grave de se perder.
A necessidade aguça o engenho, tanto como a facilidade provoca a complacência.
As provações da última guerra criaram uma geração motivada para o pragmatismo e dirigentes políticos tendencialmente escolhidos pelo mérito. As instituições nacionais e supranacionais que criaram desde então asseguraram um longo período de prosperidade e progresso.
A geração seguinte habituou-se ao aumento progressivo do nível de vida como um direito adquirido e a escolher dirigentes que se assemelham cada vez mais à maioria dos cidadãos que os elegem, políticos sem capacidade de liderar, preocupados em reflectir os sentimentos de populações cada vez mais frívolas e egoístas, mas ainda assustadoramente crédulas. Chega-se assim aos limites de eficiência da democracia e à beira do abismo.
No meio desta competição de... incompetências, detectam-se algumas vozes racionais e corajosas. Vale a pena salientar o discurso feito em Berlim a 28 de Novembro, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw Sikorski, e ao qual não foi dada toda a importância que merece.
Sikorski, com o peso histórico dum país várias vezes esmagado entre os expansionismos da Alemanha e da Rússia, foi a Berlim dizer claramente verdades como punhos, incluindo o facto de que neste momento teme mais a inactividade da Alemanha, que pode causar uma crise de proporções apocalípticas, do que a sua “actividade” passada.
Começou por lembrar as causas e os culpados do desmembramento da antiga Jugoslávia e da guerra que se seguiu, como exemplo do que pode acontecer à Europa se esta crise da união monetária não for resolvida rapidamente e bem.
Citou Kant para sublinhar a importância moral do dinheiro nas relações entre os indivíduos e entre as nações, a honestidade e a responsabilidade nas suas transacções como fundações de qualquer ordem moral. Para a União Europeia, a responsabilidade e a solidariedade são imperativos categóricos, a responsabilidade pelas decisões e a solidariedade nas dificuldades.
Num ataque frontal às responsabilidade da Alemanha nesta crise, uma crise de confiança, lembrou que o Pacto de Estabilidade já foi quebrado 60 vezes e não só pelos países pequenos em dificuldades, começou logo pelos países fundadores, incluindo a Alemanha.
A escolha agora é entre uma integração mais profunda ou o colapso. A integração significa estabelecer imediatamente um verdadeiro Banco Central e uma federação fiscal, assim como aceitar futuramente a eleição directa dum Presidente Europeu e de listas pan-europeias para o Parlamento.
Nem a Inglaterra escapou a um puxão de orelhas: Se não se querem juntar a nós, saiam do caminho. E comecem por explicar ao povo que as decisões europeias não são diktats de Bruxelas, mas o resultado de acordos nos quais participam livremente.
Lembrou aos seus anfitriões que a Alemanha é o maior beneficiário dos presentes acordos e portanto quem tem a maior obrigação de os apoiar. Que o maior perigo para a segurança e prosperidade da Polónia (como para o resto da Europa) não são as ameaças exteriores (terrorismo, mísseis russos, etc.), mas o colapso da zona euro à qual o seu país se espera juntar em breve, um sinal de confiança.
Concluiu dizendo que estamos à beira dum precipício e a Alemanha é a nação indispensável para liderar, mas não dominar, a Europa. Uma missão histórica para a reforma e a salvação da zona euro, na qual não pode falhar. Tal como ele é o primeiro membro dum governo na história da Polónia, a afirmar que teme menos o poder alemão do que a sua inactividade.
As gerações futuras julgar-nos-ão pela nossa responsabilidade no que fizermos agora, ou deixarmos de fazer.
JSR

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