Tuesday, May 31, 2011

49 - Eleições: A Mensagem e os Mensageiros


Falta um...
Published 2/6/2011 by "Jornal do Fundão". 

As próximas eleições não são apenas para escolha dos esbirros que vão fazer subir esta nação ao pelourinho da austeridade. A sentença foi lavrada no acordo que o governo assinou com os representantes dos credores do Estado. Mas não se ouve discutir os termos desta mensagem.
Os partidos fazem uma grande berraria, mas até parece que a escolha entre uns e outros está apenas nos detalhes da aplicação das penas. Um partido prefere cortar primeiro a orelha esquerda. Outro acha que é melhor cortar a orelha direita. O terceiro não tem preferência entre as orelhas, mas quer ajudar a segurar o cabo da faca. Depois, há um quarto que nega que o pelourinho exista. O quinto sugere que se pusermos voluntariamente o nariz no cepo, talvez se possa evitar o corte das orelhas...
As diferenças apregoadas são catálogos de hipocrisias, porque eventualmente tudo terá que ser cortado, mesmo algumas outras excrescências não mencionadas, sob a forma de vendas, privatizações, encerramentos, impostos e reduções de benefícios.
Estas eleições são também acerca de quem terá a capacidade de implementar efectivamente as cláusulas desse acordo e fazer as reformas necessárias, mas impopulares. Por isso não se ouve falar delas nesta espécie de campanha - jogo de escondidas - ninguém quer ser o mensageiro. Porque não vai ser fácil, nem há nenhuma certeza de ser conseguido. Mas sobretudo, sobretudo estas eleições deveriam ser acerca da escolha de quem terá a coragem de, uma vez as reformas feitas e quando chegar o momento, saber renegociar a dívida de forma a pôr a economia a crescer antes que seja tarde demais.
Os políticos
A classe política portuguesa é naturalmente uma mistura de pessoas sinceras e empenhadas, gente de bem e competente, mas também populistas, actores, malandros, aldrabões de feira, aproveitadores, corruptos e ignorantes. As análises correctas e as declarações disparatadas vêm de todos os quadrantes políticos, embora haja especializações... A pressão para se venderem a uma maioria de eleitores politicamente indiferentes, obriga a contorções que fazem os partidos e os seus responsáveis parecerem piores do que realmente são. Acabou a democracia, sem nunca ter realmente começado, e a “partidocracia” está pelas ruas da amargura.
Muitos políticos portugueses podem não ser grande coisa, mas realmente não são piores do que a mesma classe nos outros países (mais ou menos...) desenvolvidos. Porquê? Porque os melhores de cada país raramente aceitam participar directamente em actividades políticas, com a consequente exposição e bisbilhotice mediática sobre eles e as suas famílias. Porque podem ter maiores recompensas e melhor qualidade de vida em actividades privadas, fora ou dentro dos seus países de origem.
Porque os que ficam, podem sempre apoiar políticos promissores e ambiciosos, que lançam e financiam como num estábulo de cavalos de corrida, apostando em que algum ficará eventualmente bem colocado para favorecer os seus interesses. Porque assim evitam de se sujar directamente com a lama da pista. Mais tarde, se o “cavalo” tiver sido suficientemente rentável, acaba os seus dias nas verdes pastagens dos conselhos de administração das empresas para as quais correu...
Os eleitores
A julgar pelas sondagens, parece que muitos eleitores portugueses são menos exigentes do que a média dos eleitores dos tais países com os quais nos comparamos. Avaliam a política com os mesmos critérios com que assistem na televisão a concursos, telenovelas e outros programas igualmente imbecilizantes. São  pessoas crédulas que se deixam levar por contos do vigário. Por essas e por outras é que o país está falido.
Usando a metáfora estafada do futebol, se o clube teve uma época desgraçada e desceu de divisão, qual é a primeira coisa que acontece? Muda-se o treinador. Pois, mas parece que neste canto da Europa uma parte da tribo ainda acredita em milagres, que um mau treinador pode de repente começar a ganhar jogos.
Noutros países com maior percentagem de eleitores já mais alerta, quando a economia não funciona os governos são postos na rua sem dó nem piedade. “É a economia, estúpido!”, lembram-se?
“Born again”
Como é possível que o governo e um partido que arruinaram o país, por haver uma crise é certo, mas também por incompetência, por porem os interessem dos seus apaniguados acima dos interesses da colectividade, consigam apresentar-se diante dos eleitores como virgens ofendidas?
Torna-se possível quando os conselheiros eleitorais sabem vender o seu produto. São os mesmos que trabalham a imagem, a narrativa e o marketing, não só de empresas legítimas que querem aumentar os seus lucros, mas também de malandros que querem escapar à justiça e, mais importante para este argumento, de seitas religiosas que sugam o tutano aos crédulos de muitos países. Uma das técnicas é o “renascimento”, através do qual desaparecem todos os pecados e crimes passados. O indivíduo toma um banho ritual e pronto, “nasce” de novo, “is born again”... sem remorsos e sem vergonha.
Democracias
O grande desafio das democracias é a sua sobrevivência, desde o momento em que é inscrito na Constituição que o governo é eleito por maioria popular e até que a maioria dos cidadãos votantes saibam realmente o que fazem. Após uma mudança de regime, que é sempre provocada por uma minoria de esclarecidos ou iluminados, a maioria acaba por levar ao poder grupos extremistas, utópicos ou reaccionários, que contradizem os objectivos iniciais e levam a grandes desilusões, a desastres e finalmente a mudanças radicais.
Demora muito tempo esta evolução difícil, até que a educação chegue a todos, até que a necessidade do equilíbrio dos deveres e dos direitos da cidadania seja compreendida pelas grandes massas populares. Até esse momento de desenvolvimento nacional, as eleições são ganhas pelas melhores campanhas publicitárias, as que vendem candidatos como sabões para lavar a roupa.
O papel dos “media”
Este estado de barbárie mantém-se também com a cultura de massas nivelada pelo mais baixo, a coscuvilhice em vez de informação, a leviandade em vez da substância, a “fama” gratuita em vez do esforço individual e do reconhecimento do mérito.
Os responsáveis dos “media” de referência, sobretudo em tempo de campanha eleitoral, deveriam ter como critério de selecção daquilo que transmitem aos espectadores ou leitores, uma célebre citação de Eleanor Roosevelt: “As grandes mentes discutem ideias, as mentes médias discutem factos, as pequenas mentes discutem pessoas”. (Great minds discuss ideas, average minds discuss events, small minds discuss people).
Uma excelente forma também, para os eleitores avaliarem os candidatos a lugares políticos.
JSR



Sunday, May 29, 2011

48 - A Casa das Histórias

Fry's Electronics - Phoenix, Arizona
Da volta a Cascais aqui há uns tempos, apareceu um ersatz de templo Asteca no meio da vila. 
Aquelas reproduções de templos em cor-de-rosa ou tons de vermelho-terra, são comuns no México e nas zonas fronteiriças dos USA, onde normalmente albergam lojas e restaurantes. Será isto uma tentativa degenerada de aliança de civilizações?
Era preciso visitar. Afinal chama-se Casa das Histórias Paula Rego. A arquitectura da coisa já causa ligeiros ataques de urticária a quem passa perto. O conteúdo, por sua vez, recorda Jerónimo Bosch ou os pesadelos causados pelas bandas desenhadas dos anos setenta do século passado, particularmente as que contavam as aventuras dum geneticista louco que cruzava humanos com animais. A grande arte da BD transcrita para a grande arte da pintura...
Porém, de repente fez-se luz neste espírito obtuso para as coerências das grandes artes contemporâneas na arquitectura e na pintura. Claro que a construção tinha que reproduzir a arquitectura dum  mausoléu Azteca, pois se os quadros no seu interior reproduzem as figuras e inscrições que se encontram nos templos dessa mesma civilização...
Tochtli - Calendário Asteca
Os templos antigos inspiram a arquitectura, os seus hieróglifos e ideogramas inspiram a banda desenhada e a banda desenhada inspira a pintura. As bibliotecas estão cheias de tratados sobre a inter-fertilização das artes primitivas com as artes modernas. Dá que pensar, de preferência pouco, para não haver tentações de ler mais um livro dogmático sobre interpretações da linguagem artística... 

JSR

Monday, May 23, 2011

47 - Observatório da Língua Portuguesa

A língua portuguesa é mais do que isto
Vale a pena seguir e participar nas actividades desta organização. Há algum tempo, foi publicado no seu site um artigo sobre “Os Adamastores da Língua Portuguesa”. Um título bem encontrado para um artigo bem pensado.
Todavia, dependendo do ponto de vista onde cada um se encontra, assim muda a forma como se entende a defesa da língua, a definição do que é importante e daquilo com o qual já não vale a pena perder-se tempo.
Os idiomas foram e são ainda hoje (com a excepção das línguas francas de verdadeira mistura), expressões de particularismos culturais e mecanismos de defesa contra competidores e inimigos. Instrumentos também de domínios imperiais, ou de resistência a esses imperialismos. São hoje a última barreira contra a homogeneização, que será a longo termo uma consequência triste da globalização, em contraste com outras que são positivas. Os idiomas são fontes de enriquecimento na diversidade, mas também de incompreensões e conflitos.
Quanto aos Adamastores, Camões tinha razão no seu tempo, Mia Couto já não tem no nosso: “O mar foi ontem o que o idioma pode ser hoje, falta vencer alguns Adamastores”. A frase é atraente, mas inexacta, uma liberdade poética que acaricia o ego no sentido do pelo, mas uma falta de realismo.
O mar foi ontem a melhor e por vezes única forma de ligação, um meio de comunicação, o veículo para esclarecer as incertezas sobre o que havia do outro lado. Historicamente, isso foi sendo feito em zonas geográficas cada vez maiores até que coube aos portugueses o privilégio de tornar global essa descoberta.
O mar é sempre uma ponte entre sociedades diferentes para trocas comerciais, interpenetração cultural e competição. De acordo com a evolução natural, favorece o sucesso do dinamismo contra a estagnação.
Já não há Adamastores na superfície da Terra (resta a exploração espacial), no sentido épico de enfrentar o grande desconhecido, o perigo supersticioso, os obstáculos físicos inultrapassáveis. Há pequenos Adamastores conhecidos, mas são políticos, económicos, financeiros, comerciais, religiosos, burocráticos, etc.  Todas as formas por que se traduz a competição pelos recursos.
Também já não há Adamastores linguísticos. Os idiomas são instrumentos de comunicação primeiro e culturais depois. Na comunicação, as traduções e interpretações automáticas dão uma ideia cada vez precisa dos conteúdos, embora ainda muito recheados de frases incompreensíveis. Dentro de pouco tempo, de importante restará o espaço cultural.
Os últimos Adamastores são os da estandardização, sobretudo no mundo digital. Que meio se usa para comunicar verbalmente e por escrito, como se regista, guarda  e transmite informação, quais os instrumentos acordados para compatibilidades no desenvolvimento e utilização das ciências e das tecnologias. A pressão comercial e popular faz com que estas guerras acabem cada vez mais depressa.
O domínio político e económico dos Estados Unidos a seguir à última guerra mundial, impôs o inglês como língua dominante. A expansão da internet como instrumento de comunicação global e instantânea, consolidou esse facto para o futuro previsível. Mesmo os media que transmitem para o mundo as sensibilidades regionais e nacionais, exprimem-se em inglês (XinHua, Al Jazeera, France 24, etc.).
As línguas multi-nacionais como o português  têm que se impor em igualdade com o inglês em todos os fora onde ainda subsiste o pluri-linguismo oficial, resistir como instrumento de comunicação e educação nos países em que é língua oficial, e sobretudo investir no seu florescimento e reconhecimento como veículo cultural.
Para se obter resultados, é preciso separar o que é realista do que não é. Focar esforços e recursos no essencial e deixar o secundário ao seu destino. Cada coisa no seu lugar. Mais do que referencias históricas, há medidas concretas a tomar, baseadas no bom senso e dignidade próprios, e guerras a ganhar no interesse mútuo, em relação aos outros países lusófonos.
Todos os representantes institucionais da República Portuguesa no desempenho das suas funções devem exprimir-se exclusivamente na língua portuguesa, mesmo que falem fluentemente outras línguas. Em caso nenhum, absolutamente nunca, se podem expor ao ridículo de palrarem “portinhol”, “français de petit nègre” ou “pidgin english”. Nunca ceder a tentações parolas, ou tentar mostrar cosmopolitismo quando se é representante oficial de um país e duma cultura.
Em todos as organizações internacionais que tenham vários idiomas como línguas oficiais, todos os meios são bons para que a língua portuguesa não seja injustamente descriminada. Mesmo sabendo que a evolução normal, por razões de eficácia e de economia, tende para o mono-linguismo.
Para os países de língua portuguesa é indispensável que a educação transmita o conhecimento da língua, da história, da geografia e da literatura de todos, em graus diferenciados de acordo com as suas particularidades individuais.
Mas em zonas lusófonas periféricas há batalhas perdidas, como Goa e Macau. Outras  que se podem perder por falta de investimento e vontade mútua, por não se aperceberem dos riscos que correm em não manterem um máximo de diferenciação em relação aos vizinhos mais poderosos, como na Guiné e em Timor.
Sobre tudo isto há excesso de informação, mas incapacidade de transformar essa informação em conhecimento geral e implementação. Tudo se encontra, mas com o preço de dispersão da atenção, excesso de alternativas e mesmo por vezes um  facilitismo estéril. Isto é um trabalho de todos. Sem desculpas.

JSR

Friday, May 20, 2011

46 - Mais um “Bonfire of the Vanities”

The Bonfire of Vanities - Dick Watkins 
O Managing Director do Fundo Monetário Internacional demitiu-se. Pelas razões indicadas no comunicado e por várias outras. Independentemente de outras considerações, o chefe duma organização internacional com a importância e reputação do FMI não deve ter relações sexuais com a criada de quarto dum hotel. Não interessa se foram consentidas ou não, não interessa se foi uma cilada ou não. Interessa que esse simples facto demonstra “poor judgement” e falta de auto-controle, o que o desqualifica para o lugar que desempenhava.
Uma das outras perguntas que se colocam, é como foi possível tal erro de casting, quando as tendências do homem eram conhecidas e bem documentadas. Foi possível porque é sempre extremamente difícil encontrar a pessoa certa para este lugar em particular. Candidatos há muitos e noutras organizações internacionais vêm-se os desastres frequentes que são resultado de dar preferência às considerações de baixa política, sobre a competência e capacidade.
O grupo dentro do qual é possível a escolha é extremamente limitado e, sendo humanos, são todos imperfeitos. Os homens e mulheres sem história não têm carisma, essa qualidade difícil de definir mas imediatamente aparente. Os machos e fêmeas Alpha, vêm acompanhados dos defeitos correspondentes às suas qualidades e, de entre esses defeitos, as tendências sexuais exacerbadas são as mais comuns e geralmente as menos perigosas.
 O poder é um grande afrodisíaco e geralmente funciona em ambos os sentidos, por isso é controlado por códigos de conduta que são quase sempre eficazes, na prevenção e na repressão. Piores defeitos são a incapacidade de tomar decisões, a falta de imaginação, astúcia ou autoridade, a corruptibilidade, a incompetência.
O resto tem a ver com importantes questões pessoais e gerais, o respeito pelos direitos dos indivíduos, o bom funcionamento da justiça e suas consequências políticas. Questões secundárias são as hipocrisias morais, os diferentes ambientes culturais, a predação pelos media na procura dos detalhes escabrosos.
Este triste “caso” tem muitos dos ingredientes do célebre “The Bonfire of the Vanities”, no funcionamento das sociedades ocidentais em geral e da americana em particular. As enormes desigualdades sociais que levam ao sentimento de impunidade de alguns, nos dois extremos da escala, aliás. O tratamento diferenciado pela polícia e pela justiça, sempre preocupadas com a percepção mediática em relação a certo tipo de pessoas, de comportamentos, de sensibilidades, de minorias, etc. 

As diferenças de culturas são também interessantes de observar nos media: a procura do rigor dos factos pelos órgãos de referência ingleses, a politização imediata dos americanos, a emoção embaraçada dos franceses e a coscuvilhice inexacta dos portugueses. As diferenças dos sistemas de justiça são também grandes mas mais simples: uns funcionam, outros não.
Há um provérbio russo que, traduzido sem o vernacular, diz mais ou menos o seguinte:  “Não se admire a raposa do que lhe acontece, quando fica presa ao entrar na toca do coelho...” 
JSR  

Monday, May 16, 2011

45 - Dominique... nique... nique...*

St Dominique
peint par Fra Angelico...
Chega de e-mails surpreendidos e mensagens humorísticas ou sarcásticas. 
Pronto, pronto... é preciso comentar a prisão de Dominique Strauss-Kahn (DSK) em Nova York, por uma alegada tentativa de passade com... uma criada de quarto dum Sofitel?! O Managing Director do FMI...
Das duas uma, ou o homem foi vítima dum guet-hapens ou mais provavelmente precisa de tratamento psiquiátrico. Vejamos, pela devida ordem:
DSK é um Francês tipicamente parisiense, da chamada gauche caviar. Como Mitterrand e muitos outros, estão habituados a que os media locais ignorem deliberadamente este tipos de assuntos, considerados com sendo do foro exclusivamente pessoal. Tem uma bagagem considerável e conhecida, de todo o tipo de histórias com mulheres, suficientes para encher um livro de crónicas escritas por alguém com o talento dum Manuel Maria Barbosa du Bocage...
Quando chegou ao Fundo e para o caso de estar esquecido, os advogados da instituição avisaram-no com toda a formalidade de que já não estava em Paris. Mesmo assim aproveitou logo de seguida uma ida a Davos para se envolver com uma economista da sua delegação. Por muito menos foi-se embora um Presidente do Banco Mundial. O Board do Fundo só lhe puxou as orelhas por ter mostrado poor judgement e não o pôs logo fora, pois havia razões fortes de expediência política para evitar ter que escolher um substituto. Mas ficou claro que DSK é certificadamente chanfrado.
Não podia haver maior mismatch com uma organização eminentemente straight laced, formal, ciosa da sua reputação de decorum, qualidade técnica e incorruptibilidade. Por vezes mesmo opaca. As pessoas que a compõem não são nem melhores nem piores do que as outras, mas são definitivamente mais discretas. Até nos títulos profissionais. O Banco Mundial tem um Presidente e uma chusma de Vice-Presidentes. O Fundo tem um Managing Director com os seus Deputies e Directores de Departamento e Chefes de Divisão. Dois outros Franceses foram já Managing Directors e tudo correu bem.
Todavia, a história que aparece agora nos media parece muito mal contada. DSK é um baixote com mais de sessenta anos e estava desarmado. A probabilidade de ter obrigado uma mulher de trinta, com a robustez física suficiente para trabalhar como criada de quartos, a fazer-lhe sexo oral é francamente difícil de... sorry pela alusão directa... engolir. Será assim tão difícil para a rapariga manter a boca fechada... ou morder?
Alguma coisa mais se passou. É aqui que levantam voo as teorias da conspiração. As sondagens eram-lhe favoráveis num eventual confronto com Sarkozy nas próximas presidenciais em França. Já durante as últimas eleições, que Sarkozy ganhou contra Dominique (esse não nicava nada que se soubesse...) de Villepin, passou-se entre os dois uma história obscura de difamação, um enredo policial que ainda se arrasta pelos tribunais.
Os serviços secretos franceses são conhecidos pelas suas audácias, sobretudo desde que foram apanhados a afundar o “Rainbow Warrior” na Nova Zelândia, o navio da Greenpeace no qual morreu um fotógrafo português. Poderá esta imbecilidade de Strauss-Kahn ser também an affair of entrapment ?
Certo é que este é um mau momento para tais desventuras pessoais. DSK estava a desempenhar um papel importante na evolução do Fundo para uma maior preocupação com a sustentabilidade económica dos programas de estabilização financeira, na ajuda aos países da zona Euro e futuramente, no caso de ganhar as eleições francesas, era um dos raros estadistas com standing e visão para guiar positivamente a evolução da União Europeia. C'est dommage.

JSR
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*Nota: Título duma canção popular em francês. Niquer = nicar, copular.

Wednesday, May 11, 2011

44 - O Monstro - A Kindergarten on Drugs

Kindergarten
Architecture Creativity Prize
Ao voltar ao seu poiso de Cascais e abrir a janela do escritório, o Albatroz deu de caras com o monstro da Legoland.
Uma construção que parece o pesadelo duma criança de infantário, que vê uma brincadeira com peças do Lego transformar-se num enorme monstro negro junto ao mar. Vem à memória o livro “All I really need to know I learned in  kindergarten”, de Robert Fulghum, cuja influência chegou também, obviamente, à arquitectura...
O edifício do hotel Estoril Sol que lá estava antes também não tinha sido concebido por um arquitecto em dia de inspiração, mesmo para a época, mas isto ultrapassa todas as agressões paisagísticas na baía.
Até há pouco tempo, o monstro estava tapado da vista das janelas do poiso do Albatroz, pelas árvores do jardim duma vivenda de telhado verde. Habitada primeiro por pessoas que mantinham o jardim impecavelmente tratado. De súbito, apareceu a entrar e sair um grupo de esgrouviados, com ar de “apanhados” por alguma dessas seitas que enriquecem a explorar os pobres, com preços tabelados para milagres. Bon, on s’égare...  
O certo é que a vivenda se tornou numa espécie de comuna e agora o jardim está abandonado, buxos e ervas crescem selvagens, deitaram abaixo as árvores e o telhado está “ratado” nos beirais.
Raios os partam. Havia uma vista para o mar e para as árvores. Agora, no lugar das árvores está uma savana e logo a seguir avista-se a demência dum “kindergarten on drugs”...

JSR

Monday, May 9, 2011

43 - The Assassins - Os Assassinos

An agent of the Order of Assassins fatally stabs Nizam al-Mulk, 
a Seljuk vizier (Topkapi Palace Museum)

Osama bin Laden was disposed of. Good riddance, at long last, of an infamous murderer. Ensconced where everybody knew he would be, one of the deviously pious countries where the rule of law is merely a secular wish. Religious banditry is nothing new, but with him it went global.
The sect of the “Assassins” existed during the Dark Ages, from the 11th to the 13th centuries, when the Persians dominated the Middle East. They inhabited mountain fortresses and were trained killers, “users of hashish”, responsible for the elimination of any authorities opposing their leader, "the old man of the mountain” and the sect’s beliefs. Sounds familiar?
Nothing much changed since then, in that awkward region of the world. 
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Osama bin Laden foi eliminado. Até que enfim o mundo se vê livre de um famigerado assassino. Escondido onde todos sabiam que ele estaria, um dos países de religiosidade tortuosa, nos quais o respeito pela lei é apenas um desejo secular. O banditismo religioso não é nada de novo, mas com ele tornou-se global.
A seita dos "Assassinos" existiu durante a Idade das Trevas, dos séculos 11 a 13, quando os Persas dominavam o Médio Oriente. Habitavam fortalezas nas montanhas e foram assassinos treinados, "os drogados com haxixe", responsáveis pela eliminação de quaisquer autoridades que se opusessem ao seu líder, "o velho homem da montanha" e às crenças da seita. Soa familiar?
Pouca coisa mudou desde então, naquela estranha região do mundo.
  
JSR

Sunday, May 1, 2011

42 - O novo auto da “Floresta d’Enganos”

Gil Vicente ?
“Quién será que no se enoje y todo mal se le antoje de una necedad tamaña. Yo no sé quién sofrirá y a quién no enhadará los desvaríos que aquí van.”
O auto de Gil Vicente está, cerca de cinco séculos depois de escrito,  a ser de novo representado.
Desta vez, diante duma corte diferente, descreve-se o mesmo suplício. O Filósofo quer ocupar-se das coisas sérias, pois pressagia os tempos sombrios que estão para vir, quer que todos saibam a verdade e se comportem em homens livres.  Porém, o Parvo, um bobo impertinente que trás amarrado ao pé, está sempre a interrompê-lo com perguntas e comentários… parvos. Não só na época, como sobretudo agora, filósofos e parvos são a declinar no plural...
No tempo de D. João III , beato e néscio, os problemas foram a introdução da Inquisição, que provocou a fuga dos mercadores judeus e cristãos novos, a descapitalização do reino e a necessidade de recorrer a empréstimos externos.
Seguiu-se a decadência económica, a perda das rotas comerciais mais rentáveis e, alguns anos depois, a perda efectiva da soberania nacional.
Faz lembrar alguns aspectos da situação actual ? Pergunta retórica, claro que faz. Com governantes néscios e uma grande parte do eleitorado “parvo”, é evidente que o pais tem que sofrer, e com ele todos os “filósofos” que se preocupam com a verdade da situação e o bem da coisa pública.
Com um outro tipo de inquisição agora em Portugal, a negociar as condições dos empréstimos indispensáveis, continuamos a assistir a um auto de enganos e desenganos, uma competição desequilibrada à beira do precipício, entre cartilhas repetidas até à exaustão e propostas e garantias e promessas e insultos e disparates. Entretanto os deuses descerão dos Olimpos de Washington e Bruxelas com as regras da governação e as condições do seu cumprimento.
Tudo isto vai durar até às eleições e nada indica que mudará depois. Entendimento entre os partidos sobre a partilha dos despojos? O Auto acaba assim:
“No esperéis más recado pues os es honra y provecho qu’el casamiento alongado pocas veces se vio hecho.”

JSR