Tuesday, March 6, 2012

94 - O Deslumbramento da Frivolidade

The limelight...
Veio num jornal (pelo menos) a notícia que mais uma actriz de telenovelas (aparentemente chamam-lhes “estrelinhas”) se tentou suicidar por ter deixado de receber ofertas de trabalho. Parece que abriu o gás do fogão, mas uma faísca provocou uma explosão que destruiu o apartamento e ia deitando o prédio abaixo. Safou-se à justa, apesar das queimaduras graves.
Ninguém sabe é se vai conseguir voltar a fazer aquilo de que gosta, num meio que é por natureza superficial e volúvel. Se não conseguir, ninguém sabe se vai habituar-se a viver sem a droga dos holofotes e da atenção, ou se sabe ou quer fazer outra coisa que possa dar um sentido à sua vida.
Esta é obviamente uma história triste e paradigmática. Não sei se é o caso, mas muitos jovens deixam-se encandear pelas luzes da ribalta, seja nas artes ou no desporto, onde apenas uma ínfima percentagem consegue sair da mediocridade. Por cada sucesso, quantos sonhos desfeitos.
Se há tanta gente a correr atrás de ilusões (“prendre des vessies pour des lanternes” dizem os franceses), é porque a sociedade aprecia a sorte acima do esforço, a coscuvilhice em vez da informação, a leviandade mais do que a substância, os “15 minutos de fama” brilham mais que a perseverança. A barbárie chega quando a cultura de massas é nivelada pelo mais baixo, quando a frivolidade é mais valorizada do que o mérito.
Tudo isto é potenciado pelas tecnologias da comunicação instantânea e fugaz, que deslumbra os mais crédulos e os deixa entregues aos predadores, sem as barreiras de protecção dos mais fracos erguidas ao longo do tempo pela evolução humana ao criar comunidades de entreajuda.
No limite, esta situação é uma traição das sociedades liberais que se manifesta pela degenerescência de alguns dos seus próprios filhos, espúrios, frívolos e confusos, que nem se apercebem que vendem o seu futuro às crescentes ditaduras económicas, mediáticas e do entretenimento. Quando deixam de servir, são descartados como lenços de papel usados.
Felizmente não são todos, nem sequer a maioria, mas mesmo assim as consequências são significativas e preocupantes.
JSR

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