Tuesday, March 20, 2012

96 - O Equinócio da Primavera e os Seus Ritos

Afghanistan Spring
Estas considerações são provocadas pela transição de estação do ano e pela coincidência de ter recebido hoje umas notas de viagem dum amigo e antigo colega, que está a dar assistência técnica ao Afeganistão, entre outros países em dificuldades.
O novo ano romano começava nos idos de Março, ou seja, a meio do mês dedicado ao deus Marte. Esta já era uma adaptação das celebrações anteriores realizadas pelas religiões da natureza, dedicadas ao despertar das plantas e alguns animais, depois do sono invernal. A altura em que os dias e as noites são iguais e a duração diária da luz começa a superar a duração das trevas.
Estes simples factos vieram depois a ser recuperados pelas chamadas religiões reveladas, que não são mais do que compilações de tradições acumuladas ao longo dos tempos por diversas tribos humanas. Com a invenção da escrita chamaram a essas compilações “bíblias”, conjuntos de livros, ou resumos como o Corão, ou outras coisas que os povos consideraram “sagradas”, o que no sentido original de “venerandas” não traz mal ao mundo, mas que consideradas como “a palavra definitiva, infalível, única e completa” dos deuses respectivos, é uma perfeita aberração histórica e um atentado à inteligência.
Esses mitos sobre a transição destas estações do ano, que passaram de mão em mão, incluem coisas como: a adoração da deusa mãe que tem tido muitos nomes (Ísis, Afrodite, Maria), que desperta a vida, protege as sementeiras e faz surgir os rebentos das flores, das folhas e dos cereais; a tradição dos vários filhos de deuses e de mulheres mortais que salvam os seus povos através do seu próprio sacrifício e morte, para depois renascerem com a Primavera (Osíris. Adónis, Dionísio, Cristo); e muitas outras tradições, como as ligadas aos ovos numa simbologia da vida em embrião.
Conta aquele meu amigo nestas mais recentes crónicas de viagem, como no Afeganistão se estão a preparar leis de acordo com as decisões dos “ulemas”, um grupo de fundamentalistas islâmicos que querem impor a “sharia” na sua forma mais retrógrada, com a qual os muçulmanos mais civilizados não estão evidentemente de acordo. Entre essas leis está por exemplo o retorno das mulheres a uma condição inferior de menoridade social. Não vão poder sair de casa para estudar, trabalhar, fazer compras, viajar ou qualquer outra actividade, sem serem acompanhadas por um membro masculino da família.
Estão os Estados Unidos e os seus aliados, a sacrificar as vidas dos seus soldados e rios de dinheiro, em países cuja evolução civilizacional está ainda em plena Idade Média. É certo que é preciso defender os interesses geoestratégicos da parte da humanidade mais desenvolvida ou em vias de desenvolvimento, que partilham os mesmos valores humanistas, sejam religiosos ou seculares. Mas é muito difícil aceitar que tanto esforço serve de muito pouco. As consequências da globalização tornam impossível isolar completamente estes e outros “parques jurássicos”, em várias partes do mundo. Neste ponto, nem a chegada da Primavera traz algum optimismo.
JSR

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