Saturday, July 21, 2012

115 - O Estado da Europa: As Grandes Indecisões

O que constitui um Estado político? Entre outras definições estão a  aceitação duma narrativa histórico-cultural comum, a comunidade de interesses duma ou várias entidades nacionais, o domínio duma potência unificadora, a ditadura duma ideologia e, acima de tudo, a necessidade de defesa contra ameaças exteriores.
Quase todos os países europeus se formaram, sobreviveram, juntaram-se, guerrearam, separaram-se, mudaram as fronteiras e os regimes, fizeram-se e desfizeram-se de acordo com as circunstâncias da suas histórias individuais e comuns, até aos nossos dias.
A família europeia é uma família de origens diversas, a mistura de tribos locais e invasoras, sulcada por africanos, levantinos, mediterrânicos e asiáticos, desunida pelos costumes, pelos idiomas e pelos deuses.
O que tem a Europa em comum? A geografia, a aceitação da herança cultural greco-romana, um verniz de cristianismo, uma história de competição e conflitos, alguns impérios coloniais, a arrogância de civilizar o mundo à sua imagem.
Pode a Europa tornar-se efectivamente um estado federal? Pode, mas só por etapas e devido à tomada de consciência pelos seus povos das crescentes ameaças exteriores à sua própria existência. Para já, as diferenças são ainda demasiado grandes na aceitação dos deveres e direitos da cidadania, no grau de instrução, na capacidade económica, na aceitação da diversidade.
Não há uma Europa, há as europas de tradição romana, germânica, eslava, mais os redutos célticos, bascos, ciganos e outros. Depois há as diferentes igrejas e seitas cristãs, judaicas e muçulmanas. Finalmente há os emigrantes de todo o resto do mundo. E espera-se que tudo isto, parodiando a célebre canção de Maurice Chevalier, ça fasse d'excellents européens. (Et tout ça, ça fait / D'excellents Français/ D'excellents soldats /Qui marchent au pas/Oubliant dans cette aventure/Qu'ils étaient douillets, fragiles et délicats)...     
Os europeus, tal como os franceses da canção de Chevalier, tornaram-se comodistas, frágeis e difíceis de contentar. Perderam a capacidade de impor a sua vontade no mundo, de lutar energicamente pelos seus interesses, de tomar decisões difíceis e até de se reproduzirem o suficiente para a substituição das gerações. Deixaram-se enrolar pelo politicamente correcto, pelos consensos, pelos movimentos das esquerdas piegas, sempre mais preocupados com a protecção dos direitos dos bandidos e das causas perdidas do que com as suas vítimas ou os deveres necessários para viver numa sociedade viável.
Os estereótipos levam tempo a transformar-se de insultos a motivo de anedotas inofensivas entre parceiros e esta crise atrasou os relógios do tempo. Os gregos voltaram a ser os traficantes sem escrúpulos, os países do sul preguiçosos e esbanjadores, os países do norte protestantes egoístas e sovinas.
Os países mais ricos não querem pagar as contas dos países mais pobres. Acham que se o fizerem, eles nunca mais serão capazes de acabar com a corrupção, a fuga aos impostos, as despesas excessivas do estado, as leis iníquas, os maus hábitos de viver a crédito. Acham também que saber governar-se tem que ser um exercício de auto disciplina, porque se for imposto do exterior é sempre considerado uma intromissão intolerável.
Todavia, por muito má que a situação possa ser na Europa, o mundo exterior é muito pior, com raras excepções. Sobreviver só é muito difícil para qualquer país, por maior e mais próspero que seja. A União Europeia é uma forma de vida e um projecto a que aspiram os outros povos civilizados e as pessoas civilizadas dos povos em desenvolvimento ou oprimidos.
O tempo das grandes decisões para o futuro da União Europeia está a passar e não se vislumbra outra estratégia a não ser a das meias medidas e deixar andar, esperar que a situação se resolva por si própria. Ah, e esperar que o Banco Central Europeu vá tomando algumas medidas para empatar os mercados. Com eleições à porta em países determinantes, não há grandes alternativas.
JSR  

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