Monday, April 1, 2013

155 - Franciscus gaudium magnum est ?

De Roma veio o anúncio: 
Habemus Papam! E um novo Papa entra nas luzes da ribalta. Os media encheram o tempo de transmissão ou as páginas, com histórias para entreter o público e imagens da magia das cerimónias, do luxo, da arte e da cor.
Todavia, parece que com a eleição deste Papa Francisco, a cúria romana vai passar por um daqueles períodos históricos em que a doutrina cristã e o poder do Papado colidem no Vaticano, com consequências imprevisíveis.
O Cristianismo é um dos pilares essenciais da civilização ocidental. O Papado teve um papel importante como herdeiro unificador da ideia europeia que restava do império romano. As estruturas da Igreja foram das raras luzes da civilização que sobreviveram durante as trevas da Idade Média.
Os Papas, representantes máximos da “Igreja triunfante”, estiveram historicamente acima dos chefes bárbaros que invadiram o Império, se converteram ao cristianismo, dividiram a Europa e substituíram a cultura positiva pela fé. Foram árbitros e por vezes vítimas das querelas entre os interesses das novas nações. Usaram a religião como arma de terror para submeter os recalcitrantes supersticiosos, ameaçando-os com as penas do inferno.
A pompa do vestuário, a magnificência das cerimónias, as imagens coloridas dos santos que substituíram os deuses tradicionais, a grandeza dos edifícios, tudo contribuiu para que as populações se mantivessem espantadas, reverentes e submissas. A aliança dos poderes temporal e espiritual reforçou-os a ambos.
No tempo presente, as monarquias que restam, nas quais se inclui o Papado, sabem que o espectáculo continua a contribuir grandemente para o seu prestígio entre os súbditos ou fiéis. Para os que são cada vez menos uma coisa e outra, o contributo económico que dão, através do apadrinhamento das empresas nacionais e o aumento das receitas do turismo que provocam, diminui as críticas à sua inutilidade ou irracionalidade.
Este novo Papa parece querer correr o risco de subverter este paradigma de negócio da “firma”, como chamam os Ingleses à sua monarquia. Se despe o manto do mistério e da distância, para ser um simples pastor, ganhará prestígio entre os seculares ocidentais, que vêm na Igreja uma organização importante de apoio psicológico e material, sobretudo nestes tempos difíceis. Diz o novo Papa que a Igreja não pode ser apenas uma NGO (organização não governamental) de assistência social e actividade caritativa. Mas esse é precisamente o maior mérito que lhe é ainda reconhecido, para além das questões de fé a que apenas alguns se entregam.
Mas é no resto do mundo que estão a grande maioria dos crentes e onde a Igreja trava as suas batalhas do futuro. Contra as seitas que se dizem cristãs mas que não são mais do que máquinas de marketing, vendendo ilusões a preços de tabela. Contra a expansão do islamismo radical, que substitui a necessidade de pensar individualmente e tomar decisões, pela obediência cega a uma doutrina simplista que comanda todos os aspectos da vida. Esta é uma Igreja militante, que não pode escolher as armas que quer, mas que necessita de usar as armas que tem.                                                                                      
Um Papa Jesuíta, da elite intelectual da Igreja, que escolhe o nome Francisco em honra de Francisco de Assis, o simples. Um Argentino opositor dos Kirchners,  que sendo dois em estado de negação da realidade, destruíram a economia para duas gerações. Um cardeal que vivia num pequeno apartamento, cozinhava as suas refeições e andava em transportes públicos. Um sumo pontífice que se considera sobretudo como bispo de Roma, um poliglota que só se exprime em italiano, uma “santidade” que graceja e diz coisas populares para as bases.
Como este Papa não é nenhum inocente em relação às intrigas romanas, esperemos que consiga evitar os ataques cardíacos, os envenenamentos alimentares ou a queda súbita de algum tecto sobre a cabeça, métodos com que os diferentes interesses da cúria resolvem tradicionalmente as tentativas de inovações perigosas ou as curiosidades incómodas.
JSR  

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