Sunday, November 6, 2011

67 - Mitteleuropa über alles - Os Impostores (2)

2 - Mitteleuropa über alles...

De cada vez que a Comunidade e depois a União Europeia, se alargaram para além do reduzido grupo de países do que se chamava a Europa Ocidental no tempo da guerra fria, tiveram que jogar com as forças opostas da coerência e da diversidade. Com cada alargamento, foram acordando também os demónios adormecidos do “espaço vital” para as grandes nações industriais.
A perda dos Impérios dos países marítimos, todos “Ocidentais”, deixou relações económicas importantes ou residuais com as antigas colónias, mas mesmo assim todos tiveram que se resignar à dependência prioritária das relações comercias de proximidade com os seus vizinhos europeus, como simples questão de sobrevivência numa competição global.
Entretanto, uma nova “Mitteleuropa” (Europa do Meio) germânica tem vindo a ser reconstituída discretamente ou de forma afirmativa (vide a divisão da Jugoslávia para que a Eslovénia e a Croácia se juntassem rapidamente à União), a fim de garantir as carruagens necessárias ao suporte manufactureiro para a locomotiva industrial alemã, assim como a sua expansão num mercado geograficamente imediato e historicamente natural.
Nesta carta geográfica renascente, a Europa do Norte e a do Oeste, trabalhadoras e previdentes, são aliados naturais enquanto mantiverem políticas fiscalmente virtuosas. Os países do Norte, ferozmente independentes e ciosos da sua homogeneidade cultural, têm a mesma forma de estar no mundo que os seus vizinhos germânicos, embora ressintam serem olhados com alguma sobranceria. Na Europa do Oeste, virada ao Atlântico, o Reino Unido tem sempre relutância em participar em projectos “continentais” até não ter alternativa, enquanto que a França tem a tradição diplomática de aproveitar todas as divisões para se manter como “um grande país” indispensável.
Já a Europa  do Sul e a do Sudeste são os parentes pródigos e recalcitrantes que se aturam com relutância. Estão apenas sob vigilância enquanto não mostram tendência a descarrilar, mas são obrigados a fazerem a penitência da austeridade quando apanhados em pecado de libertinagem orçamental. Os países da Europa do Sul, nascidos das heranças romana e imperiais, são nações  aventureiras que se governam com dificuldade, mas historicamente capazes de rasgos de esforço e resiliência quando se sentem em grande perigo. Porém, os países da Europa do Sudeste são casos mais complicados, têm uma herança de séculos de resistência, particularmente à ocupação otomana, resistência centrada nas comunidades de etnia, língua ou religião. Durante esse período perderam o sentido de pertença a uma entidade nacional comum e superior aos interesses das polis tribais.
Esta é a visão de Berlim e dos seus aliados naturais. O facto de que os países gastadores se endividaram em parte para comprar produtos dos outros países europeus, agora seus credores, não lhes confere direitos nem desculpas nem empatia. Soberania e responsabilidade nacionais estão previstas nos tratados, transferências financeiras não. Resta a solidariedade condicional.
Neste momento crítico e histórico, os destinos da Europa estão nas mãos da Sra. Merkel, uma Chanceler em declínio de autoridade no seu país e sem capacidade de impor uma estratégia política coerente para a União. Todos os outros actores que se passeiam no palco são meros figurantes.
          Es gibt kein "Rheingold" für alle in diesem “Götterdämmerung" ...
(Não há “Ouro do Reno” para ninguém, neste “Crepúsculo dos Deuses”...)
                                                           (continua)
JSR

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