Friday, January 4, 2013

140 - America’s Fiscal Cliff - Uma Guerra Civil Pelo Futuro

Storm Over The U.S. Capitol
Duas concepções da sociedade Americana travam uma das últimas batalhas na sua guerra pelo futuro. Uma guerra civil entre antigos e novos paradigmas económicos e sociais.
Dum lado o partido Republicano, conservadores tradicionais e alguns extremistas, partidários dos valores de livre iniciativa e responsabilidade individual, para quem “redistribution is a dirty word”. Com um eleitorado composto na sua maioria por homens brancos, cristãos de diversas denominações protestantes regulares e de algumas fundamentalistas, das classes mais endinheiradas e também dos habitantes das cidades médias e pequenas da América profunda. Em vias de perder a guerra demográfica, lutam nos seus últimos redutos para manter o que consideram o espírito que fez a grandeza do país e o diferencia das sociedades europeias.
Do outro lado, o partido Democrata, menos conservador mas longe dos valores do centro e esquerda europeus, reivindicativo do direito ao trabalho e de maior solidariedade social. Composto por uma maioria de mulheres, minorias étnicas e outras, de crenças diversas, habitantes das grandes cidades e dos Estados mais progressistas. Em grande aumento demográfico, devido sobretudo à proliferação dos hispânicos como consequência de maior natalidade e emigração incessante dos países ao sul. O tempo só vai acentuar esta diferença.
O mundo suspendeu a respiração enquanto decorreram as negociações entre as duas partes em conflito para evitar um precipício orçamental (fiscal cliff) em 2013. Precipício causado pela possível extensão de leis supostamente temporárias, assim como resultado das medidas necessárias para reduzir o enorme e crescente deficit. Respira de alívio quando uma espécie de acordo é conseguido e o presidente promulga a legislação que aumenta ligeiramente os impostos dos mais ricos, continua os programas de apoio aos mais desfavorecidos e mantêm a miríade de deduções permitida pelo código dos impostos, assim como adia o corte nas despesas militares.
É certo que uma cura de austeridade demasiado drástica nos EU teria consequências mundiais. Demasiada austeridade, aumentando impostos e cortando despesa durante um período de abrandamento económico, leva ao perigo de recessão. O pacote original provocaria uma descida de cerca de 5% do PIB, o pacote que foi promulgado após negociações reduz a descida para cerca de 2%. Os países emergentes, como a China ou a Índia, cujo crescimento económico é altamente dependente das exportações para a Europa e para os Estados Unidos, suportariam dificilmente uma recessão Americana a juntar a uma Europa em crise.
Esta guerra civil tem um fim anunciado, para bem ou para mal. Os Estados Unidos percorrem o caminho de progressiva solidariedade social da Europa, caminho que é melhor ser sem retorno. Porque a alternativa seria o retrocesso à barbárie, a rendição às correntes mais extremistas que sempre percorrem o mundo e que por vezes vencem o progresso e a razão. O grande desafio é conseguir conjugar o dinamismo económico com o peso dos encargos necessários ao funcionamento do Estado.  
Todavia, não deixa de ser  curioso como para os Estados Unidos é considerado um “fiscal cliff”, aquilo que na Europa é considerado indispensável para a recuperação financeira e uma eventual retoma económica. Como dizem os Franceses, recentemente embalados por promessas eleitorais irresponsáveis e agora confrontados pela realidade da austeridade crescente: “Va-t’en savoir”...
JSR

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