Friday, January 25, 2013

143 - O Regresso aos Mercados

O país voltou aos mercados, com uma emissão de dívida antes da data prevista no acordo com a Troika (Setembro 2013) e com sucesso (juros de menos de 5% a 5 anos), numa oferta subscrita cinco ou seis vezes e em mais de 90% por investidores estrangeiros. Se existem sucessos na gestão das finanças públicas dum estado sujeito a um programa de ajuda externa, este é um sucesso.
Não resolve tudo, nem sequer o mais importante, mas é mais um passo para inverter a situação dramática em que o país se encontra. Finalmente uma luz ao fim do túnel, embora um túnel ainda longo.
Minimizar este sucesso é prova de má fé. Alguns socialistas menos argutos estão a colocar os interesses de facções partidárias acima dos interesses do país e do próprio partido. Ao colocar o despeito acima da razão, estão a destruir a pouca credibilidade que ainda terão após o naufrágio do último governo. O resto da esquerda, com todo o respeito devido aos cidadãos que representa, sofre de bloqueio ideológico ou intelectual e não tem grande contribuição prática na solução dos problemas presentes.
Por razões diversas, os media dão uma importância inflacionada aos críticos que peroram como analistas e em painéis de opinião. Críticos que espalham a confusão por demagogia ou ignorância. Confusão que mistura factos com as suas causas e as consequências. Uma coisa são as causas da crise em que o país se encontra, outra são as consequências económicas e financeiras, outra ainda são os graves problemas sociais.
As causas da crise são globais, com especificidades europeias e condicionalismos nacionais bem conhecidos. Se as causas globais são irreversíveis, embora possam ser minimizadas se houver vontade política das democracias ocidentais, se as causas europeias vão sendo ultrapassadas com avanços demasiado lentos, a crise nacional tem que ser resolvida como a questão de sobrevivência que realmente é.
Vir clamar que este sucesso no regresso aos mercados não vem mudar nada nos sacrifícios que continuam a ser exigidos aos cidadãos, está exactamente na mesma linha de raciocínio deformado que levou à crise em primeiro lugar. Ou seja, importante era melhorar cada vez mais os salários, o consumo e a protecção social das pessoas, sem preocupação com o facto de que o país não tinha economia suficiente para esse aumento de despesa. Por isso foi preciso tapar os buracos orçamentais, ano após ano, pedindo empréstimos que acabaram por levar à bancarrota.
Na verdade, esta volta aos mercados de capitais segue no rasto da tomada de posição do Banco Central Europeu no suporte incondicional do Euro, mas isso é o mínimo que as instituições europeias podem fazer. Se o projecto europeu não for defendido e não avançar, deixa de haver União Europeia e volta a ser cada país por si. Ainda há muito que fazer a curto prazo, tanto na Europa com a união bancária e fiscal, como no país com a continuação das reformas para reduzir o défice público.
Já foi possível renegociar algumas das condições do acordo com a Troika, como a extensão do prazo de pagamento dos empréstimos. Falta agora renegociar as taxas de juros para este período mais longo. Tudo isto podia ter sido feito antes, mas essa é uma decisão que só um governo pode tomar, na determinação do tempo possível ou mais propício. Importante é que o país consiga uma redução dos juros a um taxa igual ou inferior ao crescimento da economia. Nada disto vai ser fácil e não é possível perder mais tempo com vacilações políticas internas.
JSR

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