Saturday, February 2, 2013

145 - A Limpeza dos Estábulos de Augias

Está tudo doido?
Preocupados com as políticas económicas e financeiras do governo, com o descalabro da justiça, com a crescente insegurança, com o desemprego, furiosos com as reduções de salários, espoliados pelos impostos, sim, decerto e com toda a razão. Mas é preciso manter o  bom senso e a noção do ridículo.
São todos os dias caixas de e-mail cheias de mensagens, múltiplos posts no facebook, as mesmas histórias enviadas por pessoas diferentes uma e outra vez, com pedidos ou mesmo intimações para difundir a todos os amigos, para que ninguém ignore esta ou aquela malfeitoria.
Além das redes sociais, chegam frequentemente à comunicação social todo o tipo de denúncias de falcatruas feitas por políticos, autarcas, banqueiros, empresários e variadas figuras públicas.
São histórias de abusos e má utilização dos dinheiros públicos por quem deveria ter por dever zelar pelos interesses da nação, da autarquia, da empresa estatal. São casos flagrantes de corrupção, de favorecimento, de má gestão, de expedientes de fuga à justiça. Casos que poucas vezes são resolvidos e os poucos que são demoram tanto tempo que falham totalmente o objectivo de servir de exemplo à sociedade.
Simultaneamente, nestas mensagens corre muita falsidade, invenções e aparente surpresa por aquilo que são as diferenças naturais de responsabilidades profissionais e a correspondente remuneração. Diferenças criadas pelos estudos e pela experiência, pela competência e pela capacidade de empreender.  Parece que muitos se esquecem que se não houver alguns que criem riqueza e que saibam comandar, não há trabalho para os outros, nem solidariedade social sustentável.
Por detrás de toda esta avalanche de denúncias, está uma insatisfação real, baseada em factos e percepções de um descalabro de sentido de estado, de valores, de ética, por parte de uma geração que cresceu com liberdade mas sem disciplina, com informação mas sem critério, com ídolos ocos mas sem figuras exemplares.
“Limpar os estábulos de Augias”, foi um dos trabalhos de Hércules. Para o realizar, ele necessitou da ajuda dos deuses para desviar dois rios, que ao passarem pelos estábulos arrastaram o estrume acumulado durante trinta anos. Trinta anos?! Premonitório, não? Não, a história acontece, ensina-se, repete-se e ninguém aprende nada.
JSR

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